São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

A consciência negra

RIO DE JANEIRO - Aqui no Rio, tivemos feriado local na quarta-feira, dia da Consciência Negra e das homenagens a Zumbi, que os mais radicais do movimento querem colocar em pé de igualdade com Tiradentes -ou mesmo acima dele.
Que é um herói e merece ser cultuado, não se discute. Deve ser ensinado nas escolas -e é pela educação que começa no lar e se amplia nas salas de aula que devemos reverter o quadro de hipocrisia com que tratamos o problema racial no Brasil.
Do ponto de vista jurídico, tudo parece ter sido feito. Tanto a Constituição como vários instrumentos legais condenam o racismo -a lei Afonso Arinos foi um avanço substancial. Mas todos sabemos que, no subsolo da nação brasileira, ainda prevalece o preconceito contra os negros, tanto no mercado de trabalho como na vida social propriamente dita.
Outro dia, assistindo a um documentário sobre a construção do Pentágono, em Washington, fiquei estarrecido com o número de banheiros ali instalados. Mas veio a explicação: no início dos anos 40, época em que o edifício foi concluído, prevalecia ainda aquele dispositivo racial em vários estados norte-americanos: havia banheiros para brancos e para negros.
Não chegamos a esse exagero, a um tipo de segregação física nos transportes, nos restaurantes, nos lugares públicos. Mas o preconceito existe, dissimulado num comportamento politicamente correto, mas social e economicamente discriminatório.
Só para dar um exemplo: senhora da chamada "sociedade" precisou ser anestesiada para fazer uma plástica. Procurou o cirurgião de sua confiança, internou-se. Na manhã em que ia ser operada, viu entrar no seu quarto o anestesista que iria prepará-la para o ato cirúrgico.
Era um médico negro. Inventando uma desculpa, ela pediu que adiassem a operação e procurou outra equipe para atendê-la.


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