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CARLOS HEITOR CONY
A consciência negra
RIO DE JANEIRO - Aqui no Rio, tivemos feriado local na quarta-feira, dia
da Consciência Negra e das homenagens a Zumbi, que os mais radicais
do movimento querem colocar em pé
de igualdade com Tiradentes -ou
mesmo acima dele.
Que é um herói e merece ser cultuado, não se discute. Deve ser ensinado
nas escolas -e é pela educação que
começa no lar e se amplia nas salas
de aula que devemos reverter o quadro de hipocrisia com que tratamos o
problema racial no Brasil.
Do ponto de vista jurídico, tudo parece ter sido feito. Tanto a Constituição como vários instrumentos legais
condenam o racismo -a lei Afonso
Arinos foi um avanço substancial.
Mas todos sabemos que, no subsolo
da nação brasileira, ainda prevalece
o preconceito contra os negros, tanto
no mercado de trabalho como na vida social propriamente dita.
Outro dia, assistindo a um documentário sobre a construção do Pentágono, em Washington, fiquei estarrecido com o número de banheiros
ali instalados. Mas veio a explicação:
no início dos anos 40, época em que o
edifício foi concluído, prevalecia ainda aquele dispositivo racial em vários
estados norte-americanos: havia banheiros para brancos e para negros.
Não chegamos a esse exagero, a um
tipo de segregação física nos transportes, nos restaurantes, nos lugares
públicos. Mas o preconceito existe,
dissimulado num comportamento
politicamente correto, mas social e
economicamente discriminatório.
Só para dar um exemplo: senhora
da chamada "sociedade" precisou ser
anestesiada para fazer uma plástica.
Procurou o cirurgião de sua confiança, internou-se. Na manhã em que ia
ser operada, viu entrar no seu quarto
o anestesista que iria prepará-la para
o ato cirúrgico.
Era um médico negro. Inventando
uma desculpa, ela pediu que adiassem a operação e procurou outra
equipe para atendê-la.
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