São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Os búzios e a economia

SÃO PAULO - Previsões sobre o desempenho da economia no Brasil são tão científicas quando lançar búzios.
Veja-se o caso do retrocesso econômico no terceiro trimestre, que surpreendeu todo mundo, inclusive o presidente da República.
Ora, o resultado oficial do PIB do terceiro trimestre só foi divulgado no meio do quarto trimestre. Ou seja, a queda já estava dada quando as consultorias souberam (pelo IBGE) que seus palpites originais estavam errados.
Se houvesse um mínimo de ciência nos palpites, se as consultorias tivessem alguma antena na economia real, detectariam a anemia no começo ou, na pior das hipóteses, no meio do trimestre anêmico, não no meio do trimestre seguinte, certo?
Ou é incompetência ou é má-fé (palpites de consultorias raramente são inocentes; em geral refletem os interesses de seus proprietários ou sócios em que a economia tome esta ou aquela direção).
Não é opinião minha, mas informação de George Soros, que dessas coisas entende, certo?
A prova mais recente da incompetência ou má-fé dessa gente toda é o caso da Argentina. Não houve uma consultoria que não previsse o inferno eterno para o país depois da moratória. Tese, aliás, alegremente comprada por jornalistas que acreditam que as consultorias são oráculos infalíveis e as reproduzem como tais.
Bom, agora vem esse espertíssimo repórter que é Vinicius Albuquerque (Folha Online) com a informação de que a Argentina, DEPOIS da moratória, ou seja, entre 2003 e 2005, registrou o maior crescimento em cem anos. Não estou dizendo que a moratória seja bom negócio ou tenha sido a causa do crescimento. Mas é escandalosamente óbvio que ela tampouco condena necessariamente ao inferno o país que é forçado a praticá-la.
Com esse nível de previsões das consultorias mais badaladas, jogar búzios é mais científico.


@ - crossi@uol.com.br

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