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CLÓVIS ROSSI
Os búzios e a economia
SÃO PAULO - Previsões sobre o desempenho da economia no Brasil são
tão científicas quando lançar búzios.
Veja-se o caso do retrocesso econômico no terceiro trimestre, que surpreendeu todo mundo, inclusive o
presidente da República.
Ora, o resultado oficial do PIB do
terceiro trimestre só foi divulgado no
meio do quarto trimestre. Ou seja, a
queda já estava dada quando as consultorias souberam (pelo IBGE) que
seus palpites originais estavam errados.
Se houvesse um mínimo de ciência
nos palpites, se as consultorias tivessem alguma antena na economia
real, detectariam a anemia no começo ou, na pior das hipóteses, no meio
do trimestre anêmico, não no meio
do trimestre seguinte, certo?
Ou é incompetência ou é má-fé
(palpites de consultorias raramente
são inocentes; em geral refletem os interesses de seus proprietários ou sócios em que a economia tome esta ou
aquela direção).
Não é opinião minha, mas informação de George Soros, que dessas
coisas entende, certo?
A prova mais recente da incompetência ou má-fé dessa gente toda é o
caso da Argentina. Não houve uma
consultoria que não previsse o inferno eterno para o país depois da moratória. Tese, aliás, alegremente comprada por jornalistas que acreditam
que as consultorias são oráculos infalíveis e as reproduzem como tais.
Bom, agora vem esse espertíssimo
repórter que é Vinicius Albuquerque
(Folha Online) com a informação de
que a Argentina, DEPOIS da moratória, ou seja, entre 2003 e 2005, registrou o maior crescimento em cem
anos. Não estou dizendo que a moratória seja bom negócio ou tenha sido
a causa do crescimento. Mas é escandalosamente óbvio que ela tampouco
condena necessariamente ao inferno
o país que é forçado a praticá-la.
Com esse nível de previsões das consultorias mais badaladas, jogar búzios é mais científico.
@ - crossi@uol.com.br
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