São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VALDO CRUZ

Avançou, mas não chegou lá

BRASÍLIA - A CPI dos Correios encerrou o ano com seu balanço de seis meses de investigações do esquema do "mensalão". Deu como provado um esquema de corrupção abastecido com dinheiro público e privado.
Bem, vamos por partes. Até aqui, provado mesmo está que deputados aliados receberam do PT dinheiro ilegal, de caixa dois, por meio do publicitário Marcos Valério. Ou seja, sabe-se quem foi beneficiado com o esquema do "mensalão".
Ontem, a cúpula da CPI dos Correios garantiu que provou também a origem da dinheirama drenada para políticos. Com isso, teria conseguido o que outras CPIs não fizeram: identificar os "doadores" do dinheiro do esquema de corrupção.
Não é bem assim. O que a comissão tem são fortes indícios de que o "mensalão" foi generosamente fornido com dinheiro público de estatais, principalmente de uma empresa ligada ao Banco do Brasil.
É pouco? Não, já é um bom caminho andado. A CPI, porém, vende ilusão ao propalar ter identificado cabalmente a fonte do "mensalão". A prova definitiva, aquela que servirá para punir na Justiça os responsáveis pela engenharia do esquema, ainda não foi encontrada.
Tome-se o caso da Visanet, empresa do BB. A CPI aponta uma série de coincidências sobre o repasse de dinheiro do banco para agências de Marcos Valério e a transferência da grana para o caixa dois. Bingo, taí a prova final, dizem. Só que o dinheiro não é carimbado.
O que a turma da comissão não pode fazer é dar tudo como esclarecido. Se fizer isso, corre o risco de, mais uma vez, dar o argumento de sempre a políticos envolvidos com corrupção: nada foi provado.
Nossa história recente está repleta de exemplos. Tudo bem, politicamente a condenação está feita. Já é alguma coisa. Mas, no final, teremos sempre um moribundo circulando por aí dizendo que foi injustiçado. Por completa inépcia dos investigadores.


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Os búzios e a economia
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Nelson Motta: Eles e nós
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.