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VALDO CRUZ
Avançou, mas não chegou lá
BRASÍLIA - A CPI dos Correios encerrou o ano com seu balanço de seis
meses de investigações do esquema
do "mensalão". Deu como provado
um esquema de corrupção abastecido com dinheiro público e privado.
Bem, vamos por partes. Até aqui,
provado mesmo está que deputados
aliados receberam do PT dinheiro
ilegal, de caixa dois, por meio do publicitário Marcos Valério. Ou seja, sabe-se quem foi beneficiado com o esquema do "mensalão".
Ontem, a cúpula da CPI dos Correios garantiu que provou também a
origem da dinheirama drenada para
políticos. Com isso, teria conseguido
o que outras CPIs não fizeram: identificar os "doadores" do dinheiro do
esquema de corrupção.
Não é bem assim. O que a comissão
tem são fortes indícios de que o
"mensalão" foi generosamente fornido com dinheiro público de estatais,
principalmente de uma empresa ligada ao Banco do Brasil.
É pouco? Não, já é um bom caminho andado. A CPI, porém, vende
ilusão ao propalar ter identificado
cabalmente a fonte do "mensalão". A
prova definitiva, aquela que servirá
para punir na Justiça os responsáveis
pela engenharia do esquema, ainda
não foi encontrada.
Tome-se o caso da Visanet, empresa do BB. A CPI aponta uma série de
coincidências sobre o repasse de dinheiro do banco para agências de
Marcos Valério e a transferência da
grana para o caixa dois. Bingo, taí a
prova final, dizem. Só que o dinheiro
não é carimbado.
O que a turma da comissão não pode fazer é dar tudo como esclarecido.
Se fizer isso, corre o risco de, mais
uma vez, dar o argumento de sempre
a políticos envolvidos com corrupção:
nada foi provado.
Nossa história recente está repleta
de exemplos. Tudo bem, politicamente a condenação está feita. Já é alguma coisa. Mas, no final, teremos sempre um moribundo circulando por aí
dizendo que foi injustiçado. Por completa inépcia dos investigadores.
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