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SERGIO TORRES
Mar marrom
RIO DE JANEIRO - Há muitos anos não há, no Rio, um verão como o
atual. O sol tem sido raro. A chuva,
quase diária. A temperatura mais
baixa faz os friorentos saírem agasalhados à noite. Nem parece janeiro,
mês de calor infernal, de suor abundante, de sombra disputada a tiro.
Uma outra mudança que vem sendo notada pelos cariocas neste verão
é a qualidade das praias. Costumeiramente, a orla do Rio é suja nesta
época do ano. Desta vez, a situação
mudou. Por incrível que pareça, para
pior. As praias da zona sul estão
imundas. O esgoto tomou as areias e
o mar. Em Copacabana, mais famosa praia do país, uma vala negra deságua diretamente no mar. O cheiro
é pavoroso. A visão idem. O esgoto
vem, segundo a companhia do governo estadual incumbida do assunto,
de despejos clandestinos e de infiltrações nas galerias pluviais. E daí? Não
dá para consertar?
Ao lado do Pão de Açúcar, outro gigante do turismo nacional, o esgoto
jorra na areia da praia Vermelha. De
novo, vale perguntar. Não dá para
consertar?
Não há desculpa para tanta sujeira.
Ano após ano, as autoridades prometem um verão com praias limpas. As
promessas não são cumpridas, claro.
Água limpa é fundamental. Não dá
para tomar banho em um caldo escuro. Nas poucas ocasiões em que o sol
aparece, milhares correm para o
mar. Em vez do azul e do verde, avistam um marrom asqueroso.
Refúgio dos cariocas esclarecidos,
nem Niterói tem escapado da poluição. No último fim de semana, a sempre límpida praia de Itacoatiara ostentava na arrebentação uma grossa
faixa de espuma pestilenta.
O boletim oficial de qualidade das
praias, publicado ontem, mostra bem
a situação. Estavam impróprias para
banho todas as praias nobres do Rio:
Copacabana, Ipanema, Leblon, São
Conrado, Pepino e Barra da Tijuca.
Próprias, só o Leme (canto esquerdo
de Copacabana), o Arpoador (canto
esquerdo de Ipanema) e o Recreio,
nas lonjuras da zona oeste.
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