São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2004

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SERGIO TORRES

Mar marrom

RIO DE JANEIRO - Há muitos anos não há, no Rio, um verão como o atual. O sol tem sido raro. A chuva, quase diária. A temperatura mais baixa faz os friorentos saírem agasalhados à noite. Nem parece janeiro, mês de calor infernal, de suor abundante, de sombra disputada a tiro.
Uma outra mudança que vem sendo notada pelos cariocas neste verão é a qualidade das praias. Costumeiramente, a orla do Rio é suja nesta época do ano. Desta vez, a situação mudou. Por incrível que pareça, para pior. As praias da zona sul estão imundas. O esgoto tomou as areias e o mar. Em Copacabana, mais famosa praia do país, uma vala negra deságua diretamente no mar. O cheiro é pavoroso. A visão idem. O esgoto vem, segundo a companhia do governo estadual incumbida do assunto, de despejos clandestinos e de infiltrações nas galerias pluviais. E daí? Não dá para consertar?
Ao lado do Pão de Açúcar, outro gigante do turismo nacional, o esgoto jorra na areia da praia Vermelha. De novo, vale perguntar. Não dá para consertar?
Não há desculpa para tanta sujeira. Ano após ano, as autoridades prometem um verão com praias limpas. As promessas não são cumpridas, claro.
Água limpa é fundamental. Não dá para tomar banho em um caldo escuro. Nas poucas ocasiões em que o sol aparece, milhares correm para o mar. Em vez do azul e do verde, avistam um marrom asqueroso.
Refúgio dos cariocas esclarecidos, nem Niterói tem escapado da poluição. No último fim de semana, a sempre límpida praia de Itacoatiara ostentava na arrebentação uma grossa faixa de espuma pestilenta.
O boletim oficial de qualidade das praias, publicado ontem, mostra bem a situação. Estavam impróprias para banho todas as praias nobres do Rio: Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado, Pepino e Barra da Tijuca. Próprias, só o Leme (canto esquerdo de Copacabana), o Arpoador (canto esquerdo de Ipanema) e o Recreio, nas lonjuras da zona oeste.


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