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PAÍS DE TERCEIROS
As atenções estão a tal ponto
voltadas para a agenda das "reformas constitucionais" que aspectos cruciais da reforma do Estado
passam quase despercebidos.
O tema ressurgiu na suposta declaração do presidente Lula sobre o futuro das agências reguladoras, que
seriam "o Brasil terceirizado".
A expressão tem repercussões muito mais amplas que a de condenar a
atuação das agências reguladoras.
Tem implicações sobre a definição
das fronteiras de atuação do Estado.
O governo FHC "terceirizou" o país
sob muitas formas, entre as quais
destacaram-se as "agências" (como
Anatel ou Aneel). Há exemplos análogos. A instituição de organizações
sociais de interesse público, os contratos de gestão com essas entidades
e os estímulos ao desenvolvimento
do "terceiro setor" são todos faces de
uma orientação mais geral que, com
muita ironia, ficou resumida na imagem de um país terceirizado.
O que ou quem é, então, esse "terceiro"? De imediato, é algo ou alguém que não é estatal nem privado,
mas público, organizado com forte
representação da sociedade civil ou
fruto de um arranjo institucional em
que estão presentes governo, setor
privado e organizações sociais.
Quanto às agências de regulação
setorial, elas podem ser aperfeiçoadas ou destruídas. A predileção do
governo Lula por um controle estatal
mais estrito sobre a economia e a sociedade naturalmente conduz ao
desprestígio das agências. E a reforma petista do Estado vai assim dando sinais de maior desenvoltura.
A questão central, no entanto, continua. Se o governo FHC abriu espaço, entre o Estado e o mercado, para
"terceiros", sobretudo da sociedade
civil, resta saber se esses novos atores
enriquecem ou deturpam a democracia. Essa é a questão de fundo.
Terceirizar, em qualquer empresa,
não é abrir mão de responsabilidades, mas compartilhá-las. É sobre a
natureza desses terceiros que deveriam refletir os novos reformadores
que ocupam o Estado brasileiro.
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