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CLÓVIS ROSSI
Brasil, esse desconhecido
SÃO PAULO - Diz a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil) que o setor encolheu
2,12% no ano passado.
Já o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) jura que a
agricultura cresceu 3,2% em 2006,
conforme a antiga metodologia para medir o PIB (Produto Interno
Bruto, tudo o que um país produz
de bens e serviços).
Quem tem razão? Diz o IBGE que
sua conta dá maior ênfase à produção que aos preços. Já a CNA informa que a produção de fato cresceu,
mas não cresceu o suficiente para
compensar a queda nos preços, do
que teria decorrido o empobrecimento da agricultura.
Não entendo nada de estatística,
mas o mais elementar sentido comum indica que preço é variável essencial. Digamos que você tenha
produzido dez "coisas" em 2005 e
cada uma valia R$ 1. Seu "PIB" era,
portanto, de R$ 10.
Já, no ano seguinte, você produziu 15 "coisas", mas cada uma caiu
de preço para R$ 0,50. Seu PIB também caiu, para R$ 7,5. Logo, você
empobreceu.
A diferença entre a CNA e o IBGE
não é banal. Considerando-se que o
PIB agrícola é, segundo a nova metodologia do IBGE, de R$ 120 bilhões, se tivesse crescido os 3,2%
apontados pelo instituto, o "lucro"
seria de R$ 3,84 bilhões. Já o "prejuízo", pelas contas da CNA, teria
sido de R$ 2,54 bilhões. Um buraco
negro, portanto, de portentosos R$
6,38 bilhões.
Se a CNA tiver razão (sua pesquisa tem o aval da USP), decorre um
outro problema: o PIB global brasileiro não teria o tamanho que o IBGE lhe atribuiu.
Até onde sei, não pesam suspeitas
sobre a seriedade do IBGE ou da
CNA/USP. Mas a enorme discrepância entre suas respectivas contas mostra que o Brasil navega às
cegas em um mar de números, carregados aliás de "arbitrariedade",
no dizer da colunista Míriam Leitão
em "O Globo" de ontem.
crossi@uol.com.br
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