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NEM TUDO SÃO SOMBRAS
Encarar o assassinato do vice-presidente do Paraguai, Luís María Argaña, apenas como um episódio de violência política relativamente comum
ao subdesenvolvimento seria minimizar demais a temperatura política
na América Latina.
Há uma sequência de episódios que
demonstram que ainda é ralo o enraizamento da democracia em uma região em que, até meados dos anos
80, regimes de exceção eram a regra.
Para ficar nos mais recentes: a Venezuela elegeu, no fim do ano passado, um coronel com antecedentes
golpistas, Hugo Chávez, e promessas do mais candente populismo, fenômeno político, aliás, que é periodicamente dado por morto apenas
para ressuscitar, vigoroso.
No Equador, o governo viu-se obrigado a decretar estado de emergência e a declarar feriado bancário durante uma semana inteira, para conter protestos e o pânico decorrentes
da turbulência financeira.
No caso do Chile, por fim, será conhecida hoje a sentença dos lordes
ingleses a respeito do destino do
ex-ditador Augusto Pinochet. Qualquer que seja o resultado, há a perspectiva de manifestações que apenas
porão em evidência, outra vez, a profunda divisão da sociedade chilena,
mesmo praticamente dez anos após
encerrado o período autoritário.
Se a instabilidade que tais eventos
demonstram é sempre inquietante,
há um lado positivo: nenhum dos
países que enfrentou turbulências,
mesmo graves, optou, até agora, por
soluções extra-constitucionais.
Até o coronel Chávez teve que trocar
os tanques pelas urnas como caminho para chegar ao poder, o que é um
formidável avanço quando se considera a história latino-americana, recheada de golpes e violências institucionais de toda ordem.
Se também o Paraguai, talvez o elo
mais frágil na cadeia de democracias
latino-americanas, atravessar incólume o grave episódio de ontem, talvez se possa dizer que a era das anomalias institucionais esteja chegando ao fim na América Latina.
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