SÃO PAULO - Desde o início dos anos 90, o número da economia que mais tem influenciado a avaliação que o eleitor faz dos governos é um, digamos, índice de desconforto social: a soma das taxas de inflação e de desemprego. Parece óbvio, mas não é.
A renda média do trabalhador ou o poder de compra de comida e bens duráveis (TVs, geladeiras, carros), por exemplo, por si só não são números que permitam predizer o humor do cidadão em relação ao presidente. O poder de compra do salário mínimo influencia um pouco mais a imagem do governante, mas também está longe de ser tão relevante quanto inflação e emprego.
Na campanha, PT e PSDB farão guerra de números. Mas a situação econômica e social depende tanto de contextos históricos como do resultado das ações de governos passados, de modo que é difícil tirar conclusão unívoca sobre a eficácia "numérica" do governante. De resto, alguns indicadores influenciam o discernimento de mentes e corações do eleitor, mas outros não. Por fim, seu corações são também movidos à base de memória e esperança: da confiança em políticos e governantes.
Além de certos aspectos do bem-estar material, o comportamento do eleitor depende também da avaliação que faz dos compromissos do presidente e dos resultados práticos de tal contrato político.
O índice de desconforto social passa a influenciar muito menos a percepção do eleitor quando tais compromissos são rompidos. A avaliação de FHC jamais se recuperou da desvalorização do real, apesar do bom ano econômico de 2000; apesar do fato de a renda média e o poder de compra dos pobres terem atingido o pico de quase 25 anos durante seu governo.
O compromisso de Lula de melhorar a vida dos mais pobres (faça isso bem ou não) tem fundamento real. Embora o petista tenha sido chamuscado pela corrupção, seu contrato político essencial ainda é honrado.
A economia fala alto na avaliação. Mas a fidelidade a um "contrato político" ou a oferta de esperanças realistas são essenciais ao candidato.