São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Milícias chavistas

NÃO HÁ INSTITUIÇÃO venezuelana que tenha escapado à deliberada estratégia do presidente Hugo Chávez de dividir o país entre aliados e inimigos de sua estapafúrdia "revolução bolivariana".
Com o desastrado auxílio da oposição, que abandonou o processo eleitoral, o chavismo fez do Legislativo uma câmara de ecos de suas vontades, manietou a Justiça e, agora, desperta reações nas Forças Armadas.
A ingerência de militares cubanos no país, aos quais o líder venezuelano tem conferido crescente poder, provoca insatisfações entre oficiais de alta patente, como se pôde constatar na entrevista do general Antonio Rivero à Folha.
Rivero afirma que generais e militares cubanos de postos médios têm "presença ativa" no planejamento, no treinamento e nas decisões das Forças Armadas da Venezuela. Na reserva há um mês, não considera que seu mal-estar com a situação reflita uma visão isolada.
Também é de origem cubana, afirma Rivero, a concepção da Milícia Nacional Bolivariana, força militar composta por civis voluntários treinados, sob controle direto do presidente. "É o povo armado", sintetizou Chávez ao instituir formalmente o grupo, no ano passado.
A confusão entre facção, Estado e sociedade está no cerne das milícias, que podem ser consideradas uma espécie de "corpo pretoriano", pronto a cumprir as diretrizes do presidente em caso de disputas internas.
Está claro que o objetivo primordial de Chávez, ao dividir e radicalizar o país, é eliminar a possibilidade de mudanças democráticas. Não é do interesse do Brasil e da região que a política venezuelana prossiga nessa direção. Mas a diplomacia brasileira não consegue nem sequer se dissociar das temerárias aventuras do caudilho.


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