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CESAR MAIA
Juventude e política
DESDE OS ANOS 80 a mobilização da juventude e a sua
participação política vinham diminuindo. As mobilizações dos jovens em grandes manifestações nas ruas foi minguando.
Nas campanhas eleitorais, os debates acalorados, com "torcidas" dos
candidatos extravasando os auditórios, quase desapareceram. Precipitadamente, analistas falavam
de um processo de alienação, produto da sociedade de consumo.
Provavelmente, a causa de fundo
não tenha sido nenhuma razão estrutural, mas as mudanças na própria atividade política. À medida
que os extremos políticos convergiam para o centro, produto de
uma certa desideologização após a
queda do Muro de Berlim, as razões espontâneas de mobilização
perderam impulso.
Uma razão central está no que
muitos politólogos chamam de
"partidocracia". Ao tempo em que
ocorre a convergência ao centro, os
partidos se fecham e se consideram
eles mesmos detentores da representação popular a partir do voto
da população. A "partidocracia"
produziu claros desestímulos à
participação dos jovens, que não
viam os canais de participação, mobilidade e ascensão partidárias. Os
parlamentos foram se burocratizando como desdobramento desse
processo. E o efeito maior foi o desestímulo à participação dos jovens e a sua desmobilização.
Nos últimos anos, há uma nítida
reversão desse quadro, desmentindo os que imaginavam que as causas eram estruturais e permanentes. Se uma parte dos jovens busca
a participação política com expectativa de ascensão partidária e
acesso a mandatos, a grande maioria busca a participação política para influenciar as decisões. A internet quebrou aquela obstrução.
Mesmo que a maioria dos partidos não desenvolva canais de acesso a mandatos e a espaços políticos,
o fato é que, em relação àqueles que
querem participar da política, a internet implodiu as máquinas partidárias. O uso da internet é proporcionalmente maior entre os jovens,
reforçando essa tendência. Esses
descobrem que os edifícios partidários podem ser alcançados em
qualquer andar, sem precisar mostrar carteirinha ao porteiro nem
usar os seus elevadores.
A participação é livre, pode-se
dizer o que se quer, multiplicar o
que se pensa, formar redes numa
multiplicidade de temas e numa
frequência maior que os políticos
com mandato, mobilizar a opinião
pública.
Já vivemos num ambiente muito
diferente, com ampla participação
dos jovens, que, filiados ou não a
partidos,opinam, pressionam e
chegam à sociedade, independente
da vontade e da autorização dos caciques de plantão. Com isso, a participação dos jovens voltou a dar
dinamismo ao processo político.
Os partidos que entenderem isso
estarão conectados ao futuro.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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