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RADICAIS ATÔMICOS
Escaramuças entre a Índia e o
Paquistão são bastante frequentes e normalmente se esgotam com a
troca de muitos tiros e uns poucos
morteiros na região fronteiriça. Às
vezes, porém, verifica-se uma escalada na guerra verbal entre os dois países, que rapidamente mobilizam tropas e iniciam preparativos para um
enfrentamento de maior envergadura. Nesses casos, a tensão extra costuma durar algumas semanas, mas
em geral arrefece. Em três ocasiões,
contudo, Índia e Paquistão chegaram a travar guerras de fato.
Há motivos, portanto, para apreensão com a atual crise indiano-paquistanesa, sobretudo quando se
considera que os dois países têm capacidade nuclear. Embora nenhuma
das partes pareça desejar um confronto total, existe sempre o risco de
os líderes perderem o controle dos
acontecimentos e a guerra eclodir,
com consequências imprevisíveis.
O centro da disputa é a Caxemira
indiana, região que tem maioria muçulmana e é reivindicada pelo Paquistão, que financia e dá apoio ao
movimento separatista local. O evento que deflagrou a atual crise foi o
ataque a um acampamento militar
indiano que deixou ao menos 30
mortos na semana passada.
Apesar de a querela em torno da
Caxemira ser antiga, vários fatores
presentes tornam a situação especialmente fluida. O presidente paquistanês, general Pervez Musharraf,
enfrenta forte oposição interna por
parte de grupos fundamentalistas.
Ele paga o preço por ter-se colocado
ao lado dos EUA na campanha contra o Taleban e a rede Al Qaeda. Não
há garantias de que Musharraf vá
conseguir manter-se no poder ou de
que não faça concessões aos extremistas. A Índia, por sua vez, se sente
legitimada pelo discurso antiterror
que vem dando a tônica das relações
internacionais a responder firmemente aos ataques na Caxemira.
Embora a lógica de Estado aponte
para o caminho do não-enfrentamento, não é impossível que um
grupo de radicais produza a fagulha
que falta para conflagrar a quarta
guerra indiano-paquistanesa.
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