São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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RADICAIS ATÔMICOS

Escaramuças entre a Índia e o Paquistão são bastante frequentes e normalmente se esgotam com a troca de muitos tiros e uns poucos morteiros na região fronteiriça. Às vezes, porém, verifica-se uma escalada na guerra verbal entre os dois países, que rapidamente mobilizam tropas e iniciam preparativos para um enfrentamento de maior envergadura. Nesses casos, a tensão extra costuma durar algumas semanas, mas em geral arrefece. Em três ocasiões, contudo, Índia e Paquistão chegaram a travar guerras de fato.
Há motivos, portanto, para apreensão com a atual crise indiano-paquistanesa, sobretudo quando se considera que os dois países têm capacidade nuclear. Embora nenhuma das partes pareça desejar um confronto total, existe sempre o risco de os líderes perderem o controle dos acontecimentos e a guerra eclodir, com consequências imprevisíveis.
O centro da disputa é a Caxemira indiana, região que tem maioria muçulmana e é reivindicada pelo Paquistão, que financia e dá apoio ao movimento separatista local. O evento que deflagrou a atual crise foi o ataque a um acampamento militar indiano que deixou ao menos 30 mortos na semana passada.
Apesar de a querela em torno da Caxemira ser antiga, vários fatores presentes tornam a situação especialmente fluida. O presidente paquistanês, general Pervez Musharraf, enfrenta forte oposição interna por parte de grupos fundamentalistas. Ele paga o preço por ter-se colocado ao lado dos EUA na campanha contra o Taleban e a rede Al Qaeda. Não há garantias de que Musharraf vá conseguir manter-se no poder ou de que não faça concessões aos extremistas. A Índia, por sua vez, se sente legitimada pelo discurso antiterror que vem dando a tônica das relações internacionais a responder firmemente aos ataques na Caxemira.
Embora a lógica de Estado aponte para o caminho do não-enfrentamento, não é impossível que um grupo de radicais produza a fagulha que falta para conflagrar a quarta guerra indiano-paquistanesa.



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