São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Risco país, país em risco

SÃO PAULO - A tarde toda, a telinha do computador piscava com notícias sobre o recorde do risco Brasil (terminou com a marca mais alta desde novembro, o que, convenhamos, não chega a ser um grande recorde, mas a telinha demanda espetáculo, e o mundo financeiro passou a ser um de seus fornecedores mais constantes).
Para quem acompanhou, ao vivo e em cores, alguns dos momentos mais agudos do colapso argentino no ano passado, os recordes de risco Brasil dão calafrios. Por lá, popularizou-se de tal forma essa expressão, antes reservada a um punhado de especialistas, que passou a ser tema de conversas até em campo de futebol.
Deu no que deu. Houve até quem, sensatamente, propusesse a elaboração de outro índice, mais cruel e mais verdadeiro, que seria o índice da "dor país". Mediria a infelicidade nacional bruta que foi crescentemente invadindo a alma dos argentinos, até saltar pela boca.
Em crises externas anteriores, as autoridades brasileiras passavam o tempo repetindo, primeiro, que "o Brasil não é o México", depois, que o "Brasil não é a Tailândia", mais tarde, que o "Brasil não é a Rússia". Não adiantou grande coisa: depois da Rússia, encaçaparam o Brasil.
Agora, até o presidente da República andou dizendo que, sim, o Brasil pode ser uma Argentina. De fato, o Brasil tem, como a Argentina, elevada vulnerabilidade externa e uma dívida interna que só fez crescer e crescer no reinado FHC.
Mas não parece ser essa a razão pela qual o risco Brasil está subindo. Há, aí, um pouco de tudo: malandragem, aposta, terrorismo político-eleitoral, alguma análise de fato de risco e sabe-se lá mais o quê.
Há, também, a inversão do "quanto pior, melhor". Antes, essa intenção era, justa ou injustamente, atribuída ao PT. Agora, quanto melhor está Lula nas pesquisas, pior o mercado quer ver o país. Que é, afinal, quem vai pagar por essa lógica indecente, seja qual for o novo presidente.



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