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CLÓVIS ROSSI
Risco país, país em risco
SÃO PAULO - A tarde toda, a telinha do computador piscava com notícias
sobre o recorde do risco Brasil (terminou com a marca mais alta desde novembro, o que, convenhamos, não
chega a ser um grande recorde, mas a
telinha demanda espetáculo, e o
mundo financeiro passou a ser um de
seus fornecedores mais constantes).
Para quem acompanhou, ao vivo e
em cores, alguns dos momentos mais
agudos do colapso argentino no ano
passado, os recordes de risco Brasil
dão calafrios. Por lá, popularizou-se
de tal forma essa expressão, antes reservada a um punhado de especialistas, que passou a ser tema de conversas até em campo de futebol.
Deu no que deu. Houve até quem,
sensatamente, propusesse a elaboração de outro índice, mais cruel e mais
verdadeiro, que seria o índice da "dor
país". Mediria a infelicidade nacional bruta que foi crescentemente invadindo a alma dos argentinos, até
saltar pela boca.
Em crises externas anteriores, as
autoridades brasileiras passavam o
tempo repetindo, primeiro, que "o
Brasil não é o México", depois, que o
"Brasil não é a Tailândia", mais tarde, que o "Brasil não é a Rússia". Não
adiantou grande coisa: depois da
Rússia, encaçaparam o Brasil.
Agora, até o presidente da República andou dizendo que, sim, o Brasil
pode ser uma Argentina. De fato, o
Brasil tem, como a Argentina, elevada vulnerabilidade externa e uma dívida interna que só fez crescer e crescer no reinado FHC.
Mas não parece ser essa a razão pela qual o risco Brasil está subindo.
Há, aí, um pouco de tudo: malandragem, aposta, terrorismo político-eleitoral, alguma análise de fato de risco
e sabe-se lá mais o quê.
Há, também, a inversão do "quanto pior, melhor". Antes, essa intenção
era, justa ou injustamente, atribuída
ao PT. Agora, quanto melhor está
Lula nas pesquisas, pior o mercado
quer ver o país. Que é, afinal, quem
vai pagar por essa lógica indecente,
seja qual for o novo presidente.
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