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Janela ou corredor
CPIs perdem o papel
num contexto de grande desmoralização, servindo apenas como campo
para barganhas políticas
CONTRATOS suspeitos, loteamento de cargos, sonegação de informações. Como parece ser a
regra em qualquer setor do Estado brasileiro, nas esferas municipal, estadual ou federal, a Petrobras não se mostra capaz de passar alguns dias sob o foco do noticiário sem que venham à luz indícios de irregularidades.
As últimas edições da Folha, a
esse respeito, poderiam justificar a abertura de uma penca de
CPIs sobre a estatal. Nada menos do que 19 contratos foram
celebrados, por exemplo, entre a
Petrobras e a empresa GDK -isso depois de ter emergido, vale
lembrar, o caso do jipe presenteado por esta empresa a Silvio
Pereira, então dirigente do PT.
A constatação de que a maior
empresa brasileira constitui
uma verdadeira caixa-preta é
compartilhada até por setores
do governo e, de resto, não se limita à atual gestão petista.
O irônico, e também o revoltante, em todo o processo político que se avizinha com a instauração de uma CPI da Petrobras é
que não há como esperar do Legislativo brasileiro nenhuma iniciativa realmente moralizadora
e eficaz sobre as ações da estatal.
Nascida do ativismo sempre
fugaz e desnorteado da oposição,
a CPI parece produzir, já nas disputas em torno da composição
de seus membros, um efeito ao
mesmo tempo paradoxal, previsível e ridículo.
Aumenta, na realidade, o cacife do PMDB em suas pretensões
por cargos na empresa. Majoritariamente aparelhada pelo PT,
a caixa-preta da Petrobras seria
grande o bastante para contemplar um bom número de peemedebistas, em troca de sua colaboração no abafamento das investigações inconvenientes.
Critica-se, com razão, a voracidade do PMDB. Cabe entretanto
lembrar que suas reivindicações
naturalmente se intensificam
quando observa o número de lugares reservados ao PT na mesa
do banquete.
Quanto às forças da oposição,
não é de agora que se assiste ao
arrefecimento de seu ímpeto investigativo quando os escândalos ameaçam as mesmas empreiteiras, consórcios e prestadoras
de serviços com que mantiveram
tratativas no plano das administrações estaduais e municipais.
De resto, num contexto em
que deputados e senadores se
veem devassados por uma onda
irrestrita e ecumênica de escândalos, é inevitável considerar
que a bandeira da lisura administrativa e do combate à corrupção lhes pertence menos que
nunca. Afora o que possa surgir
de incidência imprevisível nos
trabalhos, o instrumento das
CPIs perdeu o papel social que
possuía no passado.
Torna-se hoje, sobretudo, o
campo mal disfarçado de barganhas políticas e de um jogo formal em que oposição e governo,
a rigor, poderiam trocar de lugares sem maior incômodo do que,
numa viagem aérea rumo a Miami ou Paris, alguém concede em
ocupar a poltrona da janela ou a
do corredor. Que façam todos
uma boa viagem -desde que
não, como costuma acontecer,
com os recursos do contribuinte.
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