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LUIZ FERNANDO VIANNA
Árvores abatidas
RIO DE JANEIRO - Dossiê Cayman, lista de Furnas, dólares cubanos em caixas de uísque, grampo no
STF... Quantas árvores foram derrubadas para que jornais e revistas
se debruçassem sobre esses casos?
E eles, por falta de comprovação,
acabaram sepultados em notas de
pé de página par -embora alguns,
de vez em quando, saltem das tumbas para nos assustar em títulos de
seis colunas.
Com o passar do tempo, não é difícil constatar que certas histórias
são absurdas ou, pelo menos, de autenticidade improvável. Mas e
quando elas surgem? Como um jornal vai assumir ignorá-las em nome
de outros assuntos?
Nas últimas semanas, por exemplo, mais algumas árvores caíram
para que se escrevesse sobre as chamadas listas fechadas. Um projeto
de reforma política -a união destas
duas palavras já deve ter nos custado meia Amazônia- tiraria do eleitor o direito de escolher diretamente seu candidato a deputado, obrigando-o a votar em listas preparadas por partidos.
Pois, segundo o noticiário mais
recente, o monstro foi enterrado
sem choro nem vela. Fica a pergunta: morreu por que a imprensa
abriu espaço para que ele fosse torpedeado ou morreria de qualquer
forma? A primeira hipótese é mais
simpática.
No entanto, enquanto engravatados discutiam ou fingiam discutir
em Brasília a virada de mesa, pessoas perdiam tudo, inclusive vidas,
nas enchentes do Nordeste. E, ao
que parece, o mundo real das histórias de Trizidela do Vale (MA) não
teve o mesmo impacto do que o blablablá dos parlamentares. Alguém
pode dizer: não é possível misturar
as duas coisas! Será?
Agora (ou melhor, mais uma vez),
o tema é o tal do terceiro mandato
de Lula. Quantas árvores cairão até
que -espera-se- o monstro seja
enterrado?
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