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Por que Angra 3
Há razões energéticas e econômicas para concluir a terceira central nuclear, mas segurança e controle de custos são decisivos
ENERGIA NUCLEAR constitui um tema em geral tratado com excesso de
emoção -no Brasil, agravada pelo histórico de um programa nuclear secreto que consumiu bilhões até ser liquidado,
em 1990. Agora que se avizinha o
momento de decidir sobre a
construção da terceira central do
país, Angra 3, convém dotar o debate de mais racionalidade.
Se não sair da pauta pela enésima vez, a decisão pode ocorrer
amanhã em reunião do Conselho
Nacional de Política Energética
(CNPE). Tudo indica que o governo federal já se inclinou por
construir Angra 3, cujas obras
pararam em 1984. As outras centrais em operação, Angra 1 e 2,
fornecem cerca de 2% da eletricidade consumida no Brasil.
A estatal Eletronuclear alega
que já foi despendido R$ 1,5 bilhão em equipamentos e estudos
prévios. Com o investimento de
mais R$ 7 bilhões, a usina poderia ficar pronta em cinco anos e
meio, asseguram os nucleocratas. Na melhor das hipóteses,
Angra 3 entraria em operação
em 2013, quando o país decerto
precisará desses 1.350 megawatts (MW) de capacidade.
Do ângulo energético e econômico, portanto, faz sentido construir a central. Está em curso,
ademais, uma revalorização da
energia nuclear como forma de
geração relativamente limpa, no
que respeita ao aquecimento global. A crescente demanda por
eletricidade vem sendo suprida
por termelétricas a combustíveis
fósseis (gás, carvão e óleo), emissores de gases que agravam o
efeito estufa. O próprio governo
federal estima que a participação
da hidreletricidade na matriz
energética cairá de 83% para
74% em 2030.
Resta a questão da segurança,
que ainda assombra a imaginação pública com o fantasma de
Tchernobil (1986). Foi o único
acidente com vítimas fatais
(meia centena) registrado em 53
anos. Estão em funcionamento
no mundo 437 centrais, com potência de 370 mil MW. Há 30 em
construção, a maioria na Ásia.
Angra 3 é uma usina de segunda geração, como a maioria no
mundo. Incorpora vários itens
de segurança exigidos internacionalmente após Tchernobil.
Angra 2, projeto gêmeo, funciona sem percalços desde 2000.
O licenciamento ambiental de
Angra 3 foi retomado na semana
passada em audiências públicas,
que levantaram a questão do lixo
nuclear. Hoje os rejeitos são colocados de modo provisório em
piscinas nas próprias centrais,
situação anômala. Pode não ser o
caso de exigir solução definitiva
para concluir Angra 3, mas seria
um erro deslanchar outras 4 a 8
centrais planejadas sem definir
local e projeto para tanto.
A energia de usinas nucleares
-caras de construir e baratas de
operar- é competitiva só se a
obra não sofrer atrasos e acréscimo de custos. O investimento em
Angra 3 é de US$ 1.800 por quilowatt (a referência internacional
está em US$ 1.300-1.500), e o
custo de geração vai a estimados
R$ 131 a R$ 169 por megawatt-hora, que cabem raspando na referência dos leilões de energia
nova (inferior a R$ 140/MWh).
Num país como o Brasil, reside
no preço final da energia a maior
incógnita sobre Angra 3.
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