São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Eu protejo, tu liberas

GENEBRA - O confronto que opõe o Brasil aos Estados Unidos e à União Européia nas negociações comerciais globais é um conflito entre visões diferentes do mundo, ainda que nenhum dos três lados o admita de público.
A tese européia e norte-americana é a de que o livre comércio é sempre e inexoravelmente benéfico para os países que o praticam. Logo, o Brasil deveria abrir seu mercado (em bens industriais e serviços) mesmo que obtivesse concessões limitadas (ou até zero) do mundo rico na área agrícola.
Portanto, quando EUA e UE oferecem algo em agricultura (pouco ou muito, depende do gosto do freguês), o Brasil estaria condenado a aceitar e oferecer a contrapartida na área industrial porque seria bom para ele, Brasil.
O lado brasileiro -e não apenas no atual governo, mas mais enfaticamente nele- acha, sim, que abrir a economia é bom, mas que é também necessário preservar um espaço tanto para defender, com tarifas altas, setores conjunturalmente ameaçados (caso recente de têxteis, por exemplo) como para políticas industriais (ainda que não tenham sido implementadas até agora).
Daí porque o Brasil exige que se aplique, na agricultura, a regra liberalizante, que o mundo rico exige dos outros, mas não usou na sua escalada para a riqueza nem usa em certos setores.
Se livre comércio é bom para todo mundo, por que os EUA protegem, por exemplo, sua produção de álcool a partir do milho, que é economicamente inviável? O custo de produção de etanol de cana-de-açúcar (o brasileiro) é 30% menor do que o produzido a partir do milho.
Se o livre comércio é bom para todo mundo, por que a Europa dedica 40% de seu orçamento comunitário à proteção da agricultura?
Nesses termos, o verbo que se conjuga na negociação pelos países ricos ficaria assim: eu protejo, tu liberas, nós ganhamos.

crossi@uol.com.br


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