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CLÓVIS ROSSI
Eu protejo, tu liberas
GENEBRA - O confronto que opõe
o Brasil aos Estados Unidos e à
União Européia nas negociações
comerciais globais é um conflito
entre visões diferentes do mundo,
ainda que nenhum dos três lados o
admita de público.
A tese européia e norte-americana é a de que o livre comércio é sempre e inexoravelmente benéfico para os países que o praticam. Logo, o
Brasil deveria abrir seu mercado
(em bens industriais e serviços)
mesmo que obtivesse concessões limitadas (ou até zero) do mundo rico na área agrícola.
Portanto, quando EUA e UE oferecem algo em agricultura (pouco
ou muito, depende do gosto do freguês), o Brasil estaria condenado a
aceitar e oferecer a contrapartida
na área industrial porque seria bom
para ele, Brasil.
O lado brasileiro -e não apenas
no atual governo, mas mais enfaticamente nele- acha, sim, que abrir
a economia é bom, mas que é também necessário preservar um espaço tanto para defender, com tarifas
altas, setores conjunturalmente
ameaçados (caso recente de têxteis,
por exemplo) como para políticas
industriais (ainda que não tenham
sido implementadas até agora).
Daí porque o Brasil exige que se
aplique, na agricultura, a regra liberalizante, que o mundo rico exige
dos outros, mas não usou na sua escalada para a riqueza nem usa em
certos setores.
Se livre comércio é bom para todo
mundo, por que os EUA protegem,
por exemplo, sua produção de álcool a partir do milho, que é economicamente inviável? O custo de
produção de etanol de cana-de-açúcar (o brasileiro) é 30% menor do
que o produzido a partir do milho.
Se o livre comércio é bom para todo mundo, por que a Europa dedica
40% de seu orçamento comunitário
à proteção da agricultura?
Nesses termos, o verbo que se
conjuga na negociação pelos países
ricos ficaria assim: eu protejo, tu liberas, nós ganhamos.
crossi@uol.com.br
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