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RUY CASTRO
Banhos
RIO DE JANEIRO - Uma pesquisa
feita em dez países por uma empresa internacional de consultoria descobriu que o brasileiro é o povo que
mais toma banho no mundo. São
19,8 banhos por semana -2,8 por
dia!- contra pífios 8,4 dos russos,
7,9 dos japoneses, 7,7 dos franceses, 7,4 dos americanos, 6,1 dos alemães e dos italianos, 5,6 dos britânicos, 4,9 dos chineses e 3 dos indianos. Com todo o respeito.
Grande coisa. Sem precisar formular questionários, preencher tabelas ou dar um único telefonema
sobre a incidência do chuveiro nos
hábitos dos brasileiros, cheguei
quase a esse mesmo resultado em
meu livro "Carnaval no Fogo", de
2003, embora restringindo-o aos
cariocas. "Numa estimativa realista", escrevi, "pode-se garantir que
um carioca adulto toma mil banhos
por ano -performance que, em outros continentes, muitos cidadãos
levam a vida para igualar".
"Parece um exagero de banhos,
mas não é", eu continuava. "Equivale a 2,73 banhos por dia, média
inferior à que os nossos indígenas
praticavam em dias úteis". Ou seja,
errei por 0,07 -o que é insignificante dentro da famosa margem de
erro. E como fiz isto? Apenas observando a mim mesmo e a alguns
mais próximos e a outros nem tanto. O carioca toma uma chuveirada
de manhã, outra ao voltar do trabalho e, não raro, aplica-se uma terceira antes de dormir.
Uma das razões para essa assiduidade é que, entre a decisão de
entrar no banho e o efetivo banho,
o carioca tem pouca roupa para tirar. Boa parte do povo aqui passa o
dia de sunga ou de bermuda, inclusive eu, sem perda da compostura
ou do decoro profissional.
E, com os franceses tão bem na fita, fica sem efeito a história, dada
por verídica, de que Jean-Luc Godard, o cineasta da nouvelle vague,
tomou um banho após completar
"Acossado", em 1959, e só voltou a
tomar outro depois de rodar "Pierrot le Fou", em 1965.
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