ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Sempre falante, polêmico e cheio de idéias, o governador Cristovam Buarque anda calado ultimamente. Não admite, mas parece que levou um puxão de orelhas de Lula, do PT, ou de ambos.
Convenhamos que não sem motivo, depois que ele teve a ousadia de propor a permanência de Pedro Malan e Gustavo Franco num eventual governo Lula.
Além de causar constrangimentos desse tipo ao PT, Buarque enfrenta uma eleição difícil no DF. Nenhum instituto de pesquisas arrisca uma aposta. Apesar disso, ele e sua bolsa-escola são ótimas vitrines do partido. Que ninguém lhe negue isso.
Já que ele não tem falado para dentro, foi falar para fora. E logo com Graça Machel, a mulher mais bem-casada do século. Viúva do moçambicano Samora Machel, ela é agora mulher de Nelson Mandela.
Buarque propôs a Graça que ela fosse a madrinha de um programa para abolir o trabalho infantil na África, onde 80 milhões de crianças pegam no batente, em vez de pegar no lápis. Elas passariam a ser pagas pelos respectivos governos para ir à escola.
O programa começaria em Moçambique, que tem cerca de 17 milhões de habitantes. Nada menos que 33,8% de suas crianças entre 10 e 14 anos trabalham. E trabalham duro.
A África do Sul tem, ou deveria ter, interesse em co-financiar um programa desse tipo na vizinha Moçambique, que lhe despeja levas e levas de migrantes pobres todos os anos.
A história parece mais uma maluquice, mas a bolsa-escola no DF também não era? Vai que Graça Machel se empolgue... Fica registrado aqui que os "royalties" são de Buarque.
E essa história de FHC estar roubando algumas de suas idéias, como a própria bolsa-escola? "Eu acho ótimo, mas na campanha vamos perguntar: E por que não fez em quatro anos?"
Buarque condena o neoliberalismo cínico e o sindicalismo burro. É Lula, em "on" e em "off", mas elogia o que julga elogiável em FHC e critica o que julga criticável no PT.
É por isso que Cristovam Buarque é uma incógnita: simplesmente ambíguo ou uma Terceira Via ambulante?



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