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A política social do governo FHC tem sido eficaz no combate à pobreza?
SIM
Caminhando a passos firmes
PAULO RENATO SOUZA
Há duas maneiras de encarar a política social. De um lado, estão as ações
de cunho assistencialista, que procuram atacar diretamente os problemas
associados à pobreza dos segmentos
mais desfavorecidos. De outro, as mudanças estruturais, que buscam alterar
as condições pelas quais se reproduz a
miséria na sociedade. Em países de extrema desigualdade, como é o nosso
caso, a eficácia da ação governamental
consiste em obter um equilíbrio adequado entre os dois tipos de políticas.
É precisamente essa a orientação que
o governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso vem adotando desde o início de seu primeiro mandato,
em 1995. Reformas estruturais importantíssimas foram definidas e implementadas nas áreas de educação, reforma agrária e saúde, buscando precisamente alterar o quadro de reprodução da miséria em nosso país.
Na educação, uma verdadeira revolução está em marcha em relação ao
ensino fundamental, beneficiando especialmente as crianças das regiões
mais pobres. A reforma agrária ganhou um impulso inédito na história
do país. Na saúde, foram alterados os
critérios de distribuição de recursos:
privilegiaram-se ações básicas, com
ênfase nas regiões mais carentes.
As ações de cunho mais assistencialista concentraram-se na área da complementação de renda para os segmentos mais carentes, nas ações diretas de alfabetização, nos programas de
formação profissional do Ministério
do Trabalho, no aumento da merenda
escolar, na ampliação do programa de
agentes comunitários da saúde e das
campanhas de vacinação.
Esse conjunto de ações começa a
mostrar seus efeitos. Vejamos pontualmente alguns números.
1) Na educação, a taxa de escolaridade líquida da população de 7 a 14 anos
passou de 89% para 96% entre 1994 e
1998. A matrícula do ensino médio expandiu-se em 40% no mesmo período.
O programa de renda mínima associado à frequência escolar, iniciado apenas neste ano de 1999, já beneficiou 160
mil famílias em 151 municípios. Outro
programa, que visa erradicar o trabalho infantil, também já beneficiou
mais de 160 mil crianças desde 1996. O
gasto com a merenda escolar mais que
dobrou desde 1994, ultrapassando os
R$ 900 milhões em 1999.
Para o desenvolvimento do ensino
fundamental, foi criado o Fundef, fundo pelo qual o governo federal repassará neste ano mais de R$ 800 milhões
para os Estados mais pobres do Norte
e do Nordeste do país. O Programa de
Alfabetização Solidária já beneficiou
mais de 500 mil jovens e adultos, cifra
que chegará a 800 mil no final do ano e
a 1,5 milhão no ano 2000. O número de
alfabetizadores treinados por nossas
universidades já supera 40 mil.
2) Na saúde, a taxa de mortalidade
infantil recuou entre 94 e 98. O número de agentes comunitários de saúde
passou de 34 mil em 95 para 91 mil em
maio de 99, atingindo a grande maioria dos municípios brasileiros (3.653).
O Programa de Saúde da Família foi
expandido de 150 para 1.312 municípios, trabalhando hoje com 3.130 equipes de atendimento. Foi implementado o Programa de Saúde Integral da
Mulher, e a vacinação passou a incorporar também os idosos.
3) Na área de previdência e assistência, o volume de recursos aplicados em
benefícios com a aposentadoria rural
passou de R$ 4,9 bilhões para R$ 9,9
bilhões, alcançando hoje mais de 6 milhões de pessoas. O valor médio em
benefícios da Previdência, que era de
R$ 223 em 1995, passou para R$ 279
em 1999. O número de idosos e deficientes favorecidos com os benefícios
da assistência social passou de 346 mil
(em 1996) para 848 mil (em 1998).
4) Na área agrária, desde o início do
governo Fernando Henrique, foram
desapropriados 8 milhões de hectares
e já foram assentadas mais de 300 mil
famílias. Não há paralelo na história do
país. Foi criado o Banco da Terra e se
iniciou o Programa Nossa Terra, Nossa Escola, que associou a titulação de
mais de 300 mil famílias à frequência
de suas crianças em sala de aula. O
Pronaf, para a agricultura familiar, já
beneficiou, desde 1995, mais de 1,5 milhão de pequenos agricultores.
Todas as análises e informações de
organismos nacionais e internacionais
mostram uma evolução positiva nos
principais indicadores da situação social no período 1994-1998, com exceção da taxa de desemprego.
A questão do desemprego está claramente associada à crise internacional
que o país enfrentou, pois até 1997 as
taxas mantinham-se flutuando abaixo
dos 6%, segundo o IBGE. De qualquer
forma, a maneira como o país enfrentou a crise minimizou o impacto previsto pela maioria dos analistas. A expectativa é um recuo no desemprego já
no segundo semestre deste ano.
O recente informe das Nações Unidas corrobora essa visão positiva da
evolução da situação social, apesar da
polêmica em relação à metodologia de
agregação dos dados. Nosso país melhorou em todos os indicadores sociais, tomados individualmente.
Em 1995, 22 programas sociais do
governo, excluindo reforma agrária e
benefícios do INSS, consumiram R$
5,2 bilhões. Em 1999, esses mesmos
programas absorverão R$ 11,4 bilhões.
Não se incluem aí gastos sociais que
beneficiaram os segmentos das classes
média e alta, como o financiamento do
ensino superior público, por exemplo.
Essas cifras são significativas e ilustram o ponto mais importante da política social do governo do presidente
Fernando Henrique: sua mudança de
rumo em relação ao passado, aumentando os gastos nos programas que
realmente beneficiam os mais pobres,
e não os setores de renda média e alta.
O país é injusto. A herança da falta de
sensibilidade de nossas elites tradicionais não pode ser totalmente apagada
em apenas quatro anos. Estamos, ainda, muito longe de onde poderíamos
estar. Mas estamos caminhando. E
com passos firmes.
Paulo Renato Souza, 53, economista, é ministro da
Educação. Foi reitor da Universidade Estadual de Campinas de 1986 a 90 e secretário da Educação do Estado
de São Paulo (governo Montoro).
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