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A política social do governo FHC tem sido eficaz no combate à pobreza?
NÃO
Cesta básica ou renda mínima?
EDUARDO SUPLICY
O presidente Fernando Henrique
Cardoso afirmou, no início do mês:
"Não podemos continuar a ter programas de cestas básicas indefinidamente, porque isso é uma indignidade".
Curiosa declaração. Seu governo multiplicou por dez a distribuição de cestas básicas: de 3.102.526, em 1995, para
29.803.034, em 1998!
É um exemplo da ineficiência da política social do governo. Há muito tempo os especialistas em política social
sabem que a distribuição de cestas básicas constitui um mecanismo problemático de assistência. A compra centralizada de bens pelo governo é, com
frequência, fonte de desperdícios, dificuldades de transporte e abusos.
Haverá melhor alternativa? Sem dúvida. E ela vem sendo praticada, com
sucesso, em um número crescente de
municípios, sobretudo os governados
pelo PT. O governo federal já poderia
ter instituído em todo o território nacional um programa de garantia de
renda mínima, de maneira a prover
cada brasileiro de uma renda suficiente para as suas necessidades básicas.
Assim, o governo estaria finalmente
reconhecendo o direito inalienável de
todos participarem da riqueza da nação.
O programa de renda mínima pode
contribuir para criar mais empregos,
garantir que as crianças estejam na escola, erradicar o trabalho infantil e a
pobreza absoluta e melhorar a distribuição da renda.
Não é fácil, entretanto, convencer a
elite brasileira da importância de atacar a miséria e a desigualdade. Todos
prestam homenagem retórica a esses
objetivos; poucos se dispõem a realmente lutar por eles.
Quando o presidente Fernando
Henrique articulou a aprovação da lei
9.533, de 10 de dezembro de 1997, que
autoriza o governo federal a financiar
em 50% os programas municipais de
renda mínima associados à educação,
sua equipe optou por um formato
muito restrito. A menos que o desenho
do benefício venha a ser substancialmente modificado, a lei não terá efeitos importantes.
Entretanto, a despeito do pouco empenho do governo federal, mais de 30
municípios estão desenvolvendo programas de renda mínima ou bolsa-escola, por conta própria, com desenhos
mais generosos.
O governador Anthony Garotinho
(PDT), do Rio de Janeiro, iniciou o seu
programa de bolsa-escola em 20 de julho, dando um salário mínimo às famílias que tenham renda inferior a
meio salário mínimo "per capita" e cujas crianças entre 7 e 14 anos estejam
frequentando a escola. O programa,
que segue o desenho adotado no Distrito Federal, está sendo lançado experimentalmente, para mil famílias.
Mais adequada é a lei que está promulgada desde maio último no município de São Paulo e aguarda a regulamentação pelo prefeito Celso Pitta. Ela
estabelece que toda família com renda
mensal inferior a três salários mínimos
(R$ 408), com crianças até 14 anos frequentando escola ou creche públicas e
residente em São Paulo há pelo menos
quatro anos terá direito a 33% da diferença entre R$ 408 e a sua renda. Na regulamentação que propus ao prefeito,
ficaria estabelecido que a alíquota aumentaria para 45% se a renda da família fosse positiva, reforçando o estímulo à busca de trabalho.
Segundo estimativa da Fundação
Seade, a lei beneficiará aproximadamente 215 mil famílias, o que corresponde a 860 mil pessoas ou 8,5% da
população paulistana.
Será que vamos ter de esperar a eleição de Marta Suplicy para ver a lei regulamentada e posta em prática?
Eduardo Matarazzo Suplicy, 58, senador pelo PT de
São Paulo, é doutor em economia pela Universidade
Estadual de Michigan (EUA) e professor de economia
da Fundação Getúlio Vargas (SP).
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