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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Juventude e paz
Será que a força da bondade poderá transformar o mundo? Quando, como disse o profeta Isaías, as armas serão mudadas em arados para
que a fome não ceife mais vidas?
São muitos os que se empenham pela superação da violência e pela concórdia entre os povos. Entre tantos
movimentos, sobressai, nestes últimos anos, o do grupo de jovens do
"Arsenal da Paz", nascido há mais de
30 anos em Turim, na Itália. Tendo à
frente Ernesto Olivero, ex-bancário e
pai de família, surgiu assim o Sermig
(Serviço Missionário Jovem), que, ao
longo destes decênios, conseguiu
transformar o grande e desativado arsenal de guerra em Turim num espaço
de acolhida e de hospitalidade para
milhares de homens e de mulheres
sem teto e sem trabalho. Pelo "Arsenal
da Paz" passaram imigrantes do norte
da África, da Albânia e dos êxodos étnicos dos conflitos da Croácia e da
Sérvia. Em 1996, foi aberto em São
Paulo, a exemplo do que existe em Turim, o "Arsenal da Esperança", que
abriga no bairro da Mooca, a cada noite, 1.100 usuários, oferecendo-lhes casa, alimento e orientação para o trabalho. Multiplicaram-se também os projetos de auxílio, com víveres e remédios, em várias partes do mundo, às
vítimas das guerras, como em Ruanda, no Iraque, no Líbano e no período
mais árduo de Sarajevo.
O gesto mais recente desses jovens
liderados por Ernesto Olivero refere-se ao conflito entre palestinos e israelenses na situação difícil e quase insolúvel do cerco à Basílica da Natividade,
em Belém. Conhecemos a dramática
sequência de atentados e de represálias no Oriente Médio, atribuídos a
grupos extremistas no contexto instável das fronteiras artificialmente criadas no pós-Guerra em 1947. Permanecem rejeições e ressentimentos, gerando atos de violência e de vingança que
têm adiado até hoje um acordo justo e
definitivo.
O Exército de Israel chegou, em abril
deste ano, às portas da Basílica da Natividade, onde estavam refugiados 200
palestinos. O cerco durou cinco semanas. A Custódia Católica da Terra Santa, em união com o constante apelo de
paz do Santo Padre, lançou ao mundo
um angustiante pedido de auxílio para
um entendimento que evitasse a invasão do Santuário. A situação era desesperadora -com mortos e feridos,
falta de víveres e constantes disparos.
Faltava, no entanto, a decisão de um
país que se dispusesse a abrigar 13 palestinos acusados de ações terroristas.
Naqueles dias, nenhum país se apresentou. Foi então que Ernesto Olivero
e os jovens comunicaram às autoridades italianas a sua intenção de cooperar com a paz, acolhendo os refugiados no Centro Missionário de Turim.
Essa corajosa oferta permitiu que as
tratativas internacionais chegassem a
bom termo, evitando mais vítimas.
A atitude providencial dos jovens
em Turim demonstra que "a bondade
desarma", abre as portas às vidas e
cria condições de diálogo quando tudo parece perdido. É preciso confiar
na juventude.
Essa mensagem cristã de vitória da
bondade sobre o ódio, de reconciliação entre os povos beligerantes e de
construção da fraternidade motivou a
convocação do "Mundial dos Jovens",
programado para o período de 4 a 6 de
outubro de 2002, em Turim. Com a
participação de jovens de vários países, inclusive o Brasil, desejam, confiantes na graça divina, lançar um manifesto que vença o medo e a violência
e contribua para promover a fraternidade e a esperança como fundamento
da Paz entre os povos. Que Deus abençoe esses bons propósitos e a nossa juventude!
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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