São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Juventude e paz

Será que a força da bondade poderá transformar o mundo? Quando, como disse o profeta Isaías, as armas serão mudadas em arados para que a fome não ceife mais vidas?
São muitos os que se empenham pela superação da violência e pela concórdia entre os povos. Entre tantos movimentos, sobressai, nestes últimos anos, o do grupo de jovens do "Arsenal da Paz", nascido há mais de 30 anos em Turim, na Itália. Tendo à frente Ernesto Olivero, ex-bancário e pai de família, surgiu assim o Sermig (Serviço Missionário Jovem), que, ao longo destes decênios, conseguiu transformar o grande e desativado arsenal de guerra em Turim num espaço de acolhida e de hospitalidade para milhares de homens e de mulheres sem teto e sem trabalho. Pelo "Arsenal da Paz" passaram imigrantes do norte da África, da Albânia e dos êxodos étnicos dos conflitos da Croácia e da Sérvia. Em 1996, foi aberto em São Paulo, a exemplo do que existe em Turim, o "Arsenal da Esperança", que abriga no bairro da Mooca, a cada noite, 1.100 usuários, oferecendo-lhes casa, alimento e orientação para o trabalho. Multiplicaram-se também os projetos de auxílio, com víveres e remédios, em várias partes do mundo, às vítimas das guerras, como em Ruanda, no Iraque, no Líbano e no período mais árduo de Sarajevo.
O gesto mais recente desses jovens liderados por Ernesto Olivero refere-se ao conflito entre palestinos e israelenses na situação difícil e quase insolúvel do cerco à Basílica da Natividade, em Belém. Conhecemos a dramática sequência de atentados e de represálias no Oriente Médio, atribuídos a grupos extremistas no contexto instável das fronteiras artificialmente criadas no pós-Guerra em 1947. Permanecem rejeições e ressentimentos, gerando atos de violência e de vingança que têm adiado até hoje um acordo justo e definitivo.
O Exército de Israel chegou, em abril deste ano, às portas da Basílica da Natividade, onde estavam refugiados 200 palestinos. O cerco durou cinco semanas. A Custódia Católica da Terra Santa, em união com o constante apelo de paz do Santo Padre, lançou ao mundo um angustiante pedido de auxílio para um entendimento que evitasse a invasão do Santuário. A situação era desesperadora -com mortos e feridos, falta de víveres e constantes disparos. Faltava, no entanto, a decisão de um país que se dispusesse a abrigar 13 palestinos acusados de ações terroristas. Naqueles dias, nenhum país se apresentou. Foi então que Ernesto Olivero e os jovens comunicaram às autoridades italianas a sua intenção de cooperar com a paz, acolhendo os refugiados no Centro Missionário de Turim. Essa corajosa oferta permitiu que as tratativas internacionais chegassem a bom termo, evitando mais vítimas.
A atitude providencial dos jovens em Turim demonstra que "a bondade desarma", abre as portas às vidas e cria condições de diálogo quando tudo parece perdido. É preciso confiar na juventude.
Essa mensagem cristã de vitória da bondade sobre o ódio, de reconciliação entre os povos beligerantes e de construção da fraternidade motivou a convocação do "Mundial dos Jovens", programado para o período de 4 a 6 de outubro de 2002, em Turim. Com a participação de jovens de vários países, inclusive o Brasil, desejam, confiantes na graça divina, lançar um manifesto que vença o medo e a violência e contribua para promover a fraternidade e a esperança como fundamento da Paz entre os povos. Que Deus abençoe esses bons propósitos e a nossa juventude!


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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