São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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DEMOCRACIA E MARKETING

As democracias de massa modernas são a mais razoável forma de organização política de que se tem notícia. Embora regimes autoritários também possam gerar riqueza e promover a melhoria de indicadores sociais, não é por acaso que os 22 países com melhor pontuação no IDH-2004 (Índice de Desenvolvimento Humano) são democráticos.
Essa forma de governo não apenas se mostra mais eficiente na promoção do bem comum como preserva os valores fundamentais da liberdade. Não é, contudo, como se sabe, um sistema sem defeitos. E um que se torna recorrente nesta era de comunicação de massas e pesquisas de opinião é a manipulação do eleitor.
Com efeito, campanhas eleitorais cada vez mais se degeneram em puro marketing. Deixam de ser um espaço de apresentação de idéias e de propostas para converter-se numa caixa de ressonância em que os eleitores assistem a milionárias produções de TV que dizem exatamente aquilo que as pesquisas mostram que ele estaria interessado em ouvir.
Nesse contexto, o profissional de marketing contratado por uma campanha pode tornar-se mais decisivo que as teses defendidas pelo candidato, e o dinheiro para as despesas publicitárias passa a ser mais importante do que a estrutura partidária.
O fenômeno é mundial. O custo da campanha presidencial dos EUA deste ano já superou a marca de US$ 1 bilhão, quase o dobro do levantado no mesmo período na eleição de 2000. Pode-se imaginar, numa perspectiva otimista, que o eleitor aprenda com sua própria experiência. O resultado desse aprendizado, no entanto, parece traduzir-se em descrença e ceticismo em relação à política, como se observa em muitas das sociedades contemporâneas.
Apesar dessa e de outras imperfeições, a democracia continua sendo, na célebre definição do estadista britânico Winston Churchill, "a pior forma de governo, exceto todas as outras formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".


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