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CLÓVIS ROSSI
Por falar em crescimento
SÃO PAULO - Chovem boas notícias sobre o crescimento econômico. Chovem também artigos que discutem se
o crescimento atual é ou não sustentável a médio ou a longo prazo.
Só não chove o que me parece o
ponto central: crescimento sem qualificação não é o problema principal
do país. O problema é crescer com um
mínimo (ou, preferencialmente, um
máximo) de eqüidade social.
Menos mal que venha em meu socorro um economista como Jeffrey
Sachs, diretor do Instituto da Terra
da lendária Universidade Columbia
(Nova York), que pode ser acusado
de tudo, menos de ser "radical", uma
palavra que se tornou maldita em
um país que prefere sempre acomodar-se à mediocridade.
Em artigo publicado no domingo
no jornal espanhol "El País", Sachs
discute as razões pelas quais a América Latina não consegue crescer de
maneira realmente sustentável há
pelo menos duas décadas.
Aponta dois fatores que dizem respeito, precisamente, ao Brasil (ao
Brasil de todos os presidentes, recentes ou não, inclusive o atual).
Primeiro fator: "A desigualdade de
renda na América Latina (que) se encontra entre as mais elevadas do
mundo, reflexo dos antigos padrões
de divisão étnica e racial".
O governo Lula não alterou uma
vírgula sequer desse padrão.
Segundo fator: "Políticas nacionais
para o fomento da ciência e da tecnologia raramente adquirem importância na América Latina".
Sachs cobra a quadruplicação (do
atual 0,5% para 2%) do gasto com
pesquisa e desenvolvimento, "com
apoio público aos laboratórios e às
universidades e, em parte, com incentivos ao setor privado".
Um pouco disso começou a ser feito
já na gestão anterior, mas continua
muito longe do mínimo necessário.
Sem atacar essas questões, o máximo que se vai conseguir mais adiante
será repetir o general Médici, que,
nos anos 70, constatava: "O país vai
bem, o povo vai mal".
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