São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Por falar em crescimento

SÃO PAULO - Chovem boas notícias sobre o crescimento econômico. Chovem também artigos que discutem se o crescimento atual é ou não sustentável a médio ou a longo prazo.
Só não chove o que me parece o ponto central: crescimento sem qualificação não é o problema principal do país. O problema é crescer com um mínimo (ou, preferencialmente, um máximo) de eqüidade social.
Menos mal que venha em meu socorro um economista como Jeffrey Sachs, diretor do Instituto da Terra da lendária Universidade Columbia (Nova York), que pode ser acusado de tudo, menos de ser "radical", uma palavra que se tornou maldita em um país que prefere sempre acomodar-se à mediocridade.
Em artigo publicado no domingo no jornal espanhol "El País", Sachs discute as razões pelas quais a América Latina não consegue crescer de maneira realmente sustentável há pelo menos duas décadas.
Aponta dois fatores que dizem respeito, precisamente, ao Brasil (ao Brasil de todos os presidentes, recentes ou não, inclusive o atual).
Primeiro fator: "A desigualdade de renda na América Latina (que) se encontra entre as mais elevadas do mundo, reflexo dos antigos padrões de divisão étnica e racial".
O governo Lula não alterou uma vírgula sequer desse padrão.
Segundo fator: "Políticas nacionais para o fomento da ciência e da tecnologia raramente adquirem importância na América Latina".
Sachs cobra a quadruplicação (do atual 0,5% para 2%) do gasto com pesquisa e desenvolvimento, "com apoio público aos laboratórios e às universidades e, em parte, com incentivos ao setor privado".
Um pouco disso começou a ser feito já na gestão anterior, mas continua muito longe do mínimo necessário.
Sem atacar essas questões, o máximo que se vai conseguir mais adiante será repetir o general Médici, que, nos anos 70, constatava: "O país vai bem, o povo vai mal".


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