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ELIANE CANTANHÊDE
De indícios a provas
BRASÍLIA - A tendência do Supremo Tribunal Federal no caso
dos mensaleiros é a mesma do caso
Fernando Collor: acatar a denúncia
agora e no fim absolver boa parte
dos envolvidos, pelo motivo de
sempre -a falta de provas.
Acatar a denúncia não é condenar, significa apenas não absolver.
Eis a regra no Supremo: se há indícios, vamos apurar. Cá para nós, indício é o que não falta, a história faz
um enorme (e mau) sentido.
Quando o procurador Antonio
Fernando descreve as relações entre pessoas e instituições privadas e
públicas, recorrendo a perguntas
malvadas e claras para ironizar o esquema, mesmo o mais crédulo governista é obrigado a corar.
Os envolvidos e os seus torcedores martelam no respeito à "técnica
jurídica", como se fosse necessário
lembrar isso ao Supremo e à opinião pública a toda hora.
O exemplo mais evidente é o do
ex-deputado e ex-ministro José
Dirceu, por onde todas as teias do
mensalão passavam. Ou melhor,
começavam e acabavam. Seu advogado, seus amigos, seus seguidores
e seus colegas no governo nem se
dão ao trabalho de defendê-lo de fato. Limitam-se a alegar falta de provas, a "lembrar" ao Supremo que
não é uma casa política e a exigir
respeito à "técnica jurídica". Como
se o que fez ou deixou de fazer não
importasse. O que importa mesmo
é: conseguem ou não provar?
Em resumo: o procurador insiste
em que há indícios, e os advogados
juram que não há provas. Talvez os
dois tenham razão. Há indícios,
mas não provas, o que sugere que há
material suficiente para a abertura
da ação, mas pode não haver para a
posterior condenação.
De toda forma, o advogado Délio
Lins e Silva, que defende os irmãos
Lama, lembrou bem a necessidade
de separar quem é quem, ou seja, de
separar "mensaleiro de quem é inocente mensageiro". Eu só tiraria o
adjetivo. Será que há mesmo alguém "inocente" nessa história?
elianec@uol.com.br
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