São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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NELSON MOTTA

A Constituinte de Marte

RIO DE JANEIRO - O PT vai lançar uma campanha pela Constituinte exclusiva, como única forma de desatar o nó da reforma política, que todos dizem querer e ninguém faz, porque todos querem levar vantagem em tudo. A razão de ser dessa Constituinte seria a sua isenção para fazer as reformas necessárias, em benefício não de um ou de outro partido, mas da democracia. Faz todo sentido.
Mas que mágicas ou cívicas razões levariam um constituinte exclusivo, petista ou tucano, a fazer as reformas corretas que a sociedade exige contra os interesses a curto e médio prazos de seu próprio partido? Por que o comportamento deles seria diferente dos atuais militantes de qualquer partido quando no poder? Eles virão de Marte?
Nenhuma Constituinte acabará com o voto obrigatório, porque tanto a "esquerda" como a "direita" acham que ele as beneficia e que sem ele suas "causas" perderão esses "eleitores" que perpetuam o nosso atraso. Porque ninguém quer largar o osso, todos disputam o voto-carniça como urubus. Que tal, em vez do financiamento "público" das campanhas, o caixa três, cadeia para os infratores eleitorais?
Podem querer nos obrigar a votar em listas fechadas de candidatos, mas não admitem que eles sejam escolhidos pelos filiados dos partidos em eleições livres e diretas, como numa democracia de verdade. Aqui, os caciques de todos os partidos vão continuar a escolher os seus afilhados nos conchavos de sempre. Mudar o quê, para quê e para quem?
Foi com uma Constituinte dessas que Hugo Chávez ganhou seus superpoderes e o direito à reeleição perpétua, porque a oposição cansada boicotou as eleições, e os bolivarianos dominaram a cena e fizeram a festa.
Aqui, com essa oposição adesista e anestesiada, não sei não...

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