São Paulo, Terça-feira, 24 de Agosto de 1999
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A grande mentira

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Compreende-se que FHC peça que esqueçam o que escreveu. Alguns autores repudiam suas obras, proibindo os editores de reeditá-las.
O que não se compreende nem se perdoa é a mentira sobre fatos que escreveram a história de um tempo e a biografia de um cidadão. Repudia-se uma opinião, mas não se apaga uma ação.
Semana passada, o presidente da República desabafou contra os aliados que estão exigindo cargos e fazendo intrigas. Quando o regime era arbitrário -proclamou- ele estava nas ruas exigindo liberdade, democracia e justiça, enquanto muitos dos seus atuais críticos escondiam-se dentro de casa.
Não é verdade. FHC andou realmente pelas ruas, pregando idéias progressistas quando a esquerda tinha a certeza de tomar o poder pelo voto ou por um tipo qualquer de golpe. Rosnava-se que ele já teria se lançado ministro da Cultura de um novo governo ou mesmo de um regime populista.
Deu azar. A empolgação das esquerdas em 1964 foi substituída por uma debandada de auto-exilados que foram viver no exterior. Tirante os poucos prisioneiros trocados pelos sequestradores -esses sim, foram banidos por atos do governo militar-, os demais foram para o exílio justamente para não andarem pelas ruas clamando por justiça, democracia e liberdade.
FHC nunca foi preso. Quando a barra pesou mesmo, ele foi para fora. Durante os anos de chumbo não participou de nenhum protesto de rua, de nenhum movimento subversivo aqui dentro. Quando o pior da repressão passou, veio para sondar o terreno e viu que o caminho do poder era a direita. Logo que pôde, ficou nela.
A suspensão dos direitos políticos não ameaçou sua liberdade nem sua vida. Outros, na mesma situação, continuaram a luta, arriscando a própria pele. FHC não estava entre eles.



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