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A grande mentira
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Compreende-se que
FHC peça que esqueçam o que escreveu. Alguns autores repudiam suas
obras, proibindo os editores de reeditá-las.
O que não se compreende nem se
perdoa é a mentira sobre fatos que escreveram a história de um tempo e a
biografia de um cidadão. Repudia-se
uma opinião, mas não se apaga uma
ação.
Semana passada, o presidente da
República desabafou contra os aliados
que estão exigindo cargos e fazendo
intrigas. Quando o regime era arbitrário -proclamou- ele estava nas
ruas exigindo liberdade, democracia e
justiça, enquanto muitos dos seus
atuais críticos escondiam-se dentro de
casa.
Não é verdade. FHC andou realmente pelas ruas, pregando idéias
progressistas quando a esquerda tinha
a certeza de tomar o poder pelo voto
ou por um tipo qualquer de golpe. Rosnava-se que ele já teria se lançado ministro da Cultura de um novo governo
ou mesmo de um regime populista.
Deu azar. A empolgação das esquerdas em 1964 foi substituída por uma
debandada de auto-exilados que foram viver no exterior. Tirante os poucos prisioneiros trocados pelos sequestradores -esses sim, foram banidos
por atos do governo militar-, os demais foram para o exílio justamente
para não andarem pelas ruas clamando por justiça, democracia e liberdade.
FHC nunca foi preso. Quando a barra pesou mesmo, ele foi para fora. Durante os anos de chumbo não participou de nenhum protesto de rua, de nenhum movimento subversivo aqui
dentro. Quando o pior da repressão
passou, veio para sondar o terreno e
viu que o caminho do poder era a direita. Logo que pôde, ficou nela.
A suspensão dos direitos políticos
não ameaçou sua liberdade nem sua
vida. Outros, na mesma situação, continuaram a luta, arriscando a própria
pele. FHC não estava entre eles.
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