São Paulo, Terça-feira, 24 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleição na ABL

ARIANO SUASSUNA

Na Folha da quinta-feira, 19 deste mês de agosto, Antonio Carlos de Faria publicou matéria pela qual noto que a posição por mim tomada em relação à candidatura do economista Roberto Campos à Academia Brasileira de Letras não está sendo corretamente entendida. Entre outras coisas, afirma aquele jornalista que tal candidatura "vem sendo criticada por escritores identificados com o pensamento da esquerda, como o poeta Ferreira Gullar e o acadêmico Ariano Suassuna"; e diz que, "em defesa da candidatura de (Roberto) Campos, têm se manifestado acadêmicos como Rachel de Queiroz e Ledo Ivo".
Fui eleito para a ABL em 1989. Na época, havia 37 acadêmicos vivos e eu tive 37 votos, votando em mim tanto os da esquerda quanto os da direita. Depois de empossado, já votei em vários candidatos, hoje acadêmicos, tanto da direita quanto da esquerda. E lembro que esta é a segunda vez que Roberto Campos se candidata: quando da primeira, ele já era o mesmo homem de hoje; mas eu nada objetei contra sua presença na ABL, porque ele não escrevera ainda o artigo em que chamava Darcy Ribeiro de "idiota".
Por outro lado, se me mandassem escolher, na Academia Brasileira de Letras, a pessoa a quem mais quero bem, não teria nenhuma dúvida em apontar minha querida Rachel de Queiroz, que, com um passado de esquerda, é hoje considerada de direita; que tem idéias políticas bastante diferentes das minhas sobre o Brasil em geral e sobre o momento que estamos vivendo em particular; e que, como revela o próprio Antonio Carlos de Faria, está apoiando o candidato contra o qual me pronunciei.
Portanto, fica absolutamente claro que não falei contra a candidatura do economista Roberto Campos por motivos ideológicos ou por ele ser de direita. Falei por causa de sua grosseria, de sua arrogância, da falta de urbanidade com que tratou Darcy Ribeiro, incluindo-o entre aqueles a quem chama de "idiotas latino-americanos".
Repito, então: se depender de mim, a Academia Brasileira de Letras vai continuar a ser uma instituição na qual não se discrimina ninguém por motivos ideológicos. Estou de acordo com Carlos Heitor Cony, quando afirma: "A Academia já fez cem anos, mantendo a característica de ser uma casa com diversidade política, acolhendo não só escritores, mas também notáveis, e é bom que continue assim". Quem faltou às normas da cortesia que deve reinar entre pessoas de pensamento diverso foi Roberto Campos. Eu me limitei a transcrever as expressões de seu infeliz artigo de 1996, que bem demonstra não ser ele pessoa capaz de se adaptar à fraterna convivência da qual nosso querido Antônio Callado dava exemplo a todos nós.


Ariano Suassuna escreve nesta coluna às terças-feiras.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A grande mentira
Próximo Texto: Frases

Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.