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Eleição na ABL
ARIANO SUASSUNA
Na Folha da quinta-feira, 19 deste
mês de agosto, Antonio Carlos de Faria publicou matéria pela qual noto
que a posição por mim tomada em relação à candidatura do economista
Roberto Campos à Academia Brasileira de Letras não está sendo corretamente entendida. Entre outras coisas,
afirma aquele jornalista que tal candidatura "vem sendo criticada por escritores identificados com o pensamento da esquerda, como o poeta
Ferreira Gullar e o acadêmico Ariano
Suassuna"; e diz que, "em defesa da
candidatura de (Roberto) Campos,
têm se manifestado acadêmicos como
Rachel de Queiroz e Ledo Ivo".
Fui eleito para a ABL em 1989. Na
época, havia 37 acadêmicos vivos e eu
tive 37 votos, votando em mim tanto
os da esquerda quanto os da direita.
Depois de empossado, já votei em vários candidatos, hoje acadêmicos,
tanto da direita quanto da esquerda. E
lembro que esta é a segunda vez que
Roberto Campos se candidata: quando da primeira, ele já era o mesmo homem de hoje; mas eu nada objetei
contra sua presença na ABL, porque
ele não escrevera ainda o artigo em
que chamava Darcy Ribeiro de "idiota".
Por outro lado, se me mandassem
escolher, na Academia Brasileira de
Letras, a pessoa a quem mais quero
bem, não teria nenhuma dúvida em
apontar minha querida Rachel de
Queiroz, que, com um passado de esquerda, é hoje considerada de direita;
que tem idéias políticas bastante diferentes das minhas sobre o Brasil em
geral e sobre o momento que estamos
vivendo em particular; e que, como
revela o próprio Antonio Carlos de
Faria, está apoiando o candidato contra o qual me pronunciei.
Portanto, fica absolutamente claro
que não falei contra a candidatura do
economista Roberto Campos por
motivos ideológicos ou por ele ser de
direita. Falei por causa de sua grosseria, de sua arrogância, da falta de urbanidade com que tratou Darcy Ribeiro, incluindo-o entre aqueles a
quem chama de "idiotas latino-americanos".
Repito, então: se depender de mim,
a Academia Brasileira de Letras vai
continuar a ser uma instituição na
qual não se discrimina ninguém por
motivos ideológicos. Estou de acordo
com Carlos Heitor Cony, quando afirma: "A Academia já fez cem anos,
mantendo a característica de ser uma
casa com diversidade política, acolhendo não só escritores, mas também notáveis, e é bom que continue
assim". Quem faltou às normas da
cortesia que deve reinar entre pessoas
de pensamento diverso foi Roberto
Campos. Eu me limitei a transcrever
as expressões de seu infeliz artigo de
1996, que bem demonstra não ser ele
pessoa capaz de se adaptar à fraterna
convivência da qual nosso querido
Antônio Callado dava exemplo a todos nós.
Ariano Suassuna escreve nesta coluna às terças-feiras.
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