São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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A DOUTRINA EM AÇÃO

A Doutrina Bush, divulgada oficialmente na semana passada, com a publicação do documento "A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos", que erige o unilateralismo e a coerção em princípios de ação, é para valer.
Ontem o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, anunciou que não conversará com seu homólogo alemão, Peter Struck, que havia requisitado um encontro bilateral. Rumsfeld explica a recusa afirmando que a campanha eleitoral alemã teve o efeito de "envenenar a relação" entre os dois países. O chanceler alemão, Gerhard Schröder, que acaba de obter mais um mandato, fez, durante a campanha, críticas à posição dos EUA em relação ao Iraque.
O social-democrata Schröder não é um perigoso esquerdista que fala mal dos EUA em qualquer situação. As críticas que o chanceler alemão fez à administração Bush são partilhadas por diversos líderes europeus e mundiais, muitos dos quais são aliados de Washington.
A atitude de Rumsfeld nesse episódio traduz à perfeição a arrogância e o maniqueísmo que marcam a Doutrina Bush. Os EUA abandonam o conceito de dissuasão que deu a tônica das relações internacionais nos últimos 50 anos e o substituem pela noção de que a América tem a "missão" de salvar a "civilização" das "ameaças" que existem contra ela. Para fazê-lo, os EUA se permitem agir militarmente, com ou sem o apoio de instituições multilaterais como a ONU. Também se dão a liberdade de atacar preventivamente e afirmam que não deixarão nenhum país desafiar sua supremacia militar.
Os EUA têm o direito de defender-se de ataques como os de 11 de setembro. O problema é que, na ânsia de fazê-lo, os idealizadores da Doutrina Bush, além de abrirem caminho para a prática de arbitrariedades internacionais, menosprezam a política de alianças com países importantes, como a Alemanha. E um país da importância dos EUA não pode pautar suas relações diplomáticas com base no "quem não está conosco está contra nós".


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