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A DOUTRINA EM AÇÃO
A Doutrina Bush, divulgada
oficialmente na semana passada, com a publicação do documento
"A Estratégia de Segurança Nacional
dos Estados Unidos", que erige o
unilateralismo e a coerção em princípios de ação, é para valer.
Ontem o secretário de Defesa dos
EUA, Donald Rumsfeld, anunciou
que não conversará com seu homólogo alemão, Peter Struck, que havia
requisitado um encontro bilateral.
Rumsfeld explica a recusa afirmando
que a campanha eleitoral alemã teve
o efeito de "envenenar a relação" entre os dois países. O chanceler alemão, Gerhard Schröder, que acaba
de obter mais um mandato, fez, durante a campanha, críticas à posição
dos EUA em relação ao Iraque.
O social-democrata Schröder não é
um perigoso esquerdista que fala
mal dos EUA em qualquer situação.
As críticas que o chanceler alemão
fez à administração Bush são partilhadas por diversos líderes europeus
e mundiais, muitos dos quais são
aliados de Washington.
A atitude de Rumsfeld nesse episódio traduz à perfeição a arrogância e
o maniqueísmo que marcam a Doutrina Bush. Os EUA abandonam o
conceito de dissuasão que deu a tônica das relações internacionais nos últimos 50 anos e o substituem pela
noção de que a América tem a "missão" de salvar a "civilização" das
"ameaças" que existem contra ela.
Para fazê-lo, os EUA se permitem
agir militarmente, com ou sem o
apoio de instituições multilaterais
como a ONU. Também se dão a liberdade de atacar preventivamente e
afirmam que não deixarão nenhum
país desafiar sua supremacia militar.
Os EUA têm o direito de defender-se de ataques como os de 11 de setembro. O problema é que, na ânsia
de fazê-lo, os idealizadores da Doutrina Bush, além de abrirem caminho para a prática de arbitrariedades
internacionais, menosprezam a política de alianças com países importantes, como a Alemanha. E um país
da importância dos EUA não pode
pautar suas relações diplomáticas
com base no "quem não está conosco está contra nós".
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