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JOSÉ SARNEY
SOS Educação
Nestes últimos dias, curti minha insônia de estimação com
especulações que, em vez de atrair o
sono, o afastaram e ficaram remoendo
soluções e caminhos.
Implantou-se na minha madrugada
uma pergunta que é de todos: onde
nos desviamos do caminho que vínhamos trilhando no século 20 com
tanto brilhantismo e que se truncou
numa avalanche daquilo que os franceses chamam de excesso de crises?
De repente veio-me a revelação que
já deve ter acometido milhões de brasileiros ao longo das últimas gerações:
o nosso grande fracasso foi a educação. Nunca fomos capazes de construir um modelo educacional para o
Brasil, num planejamento a ser seguido por administrações sucessivas. Tivemos bons e maus ministros, mas cada um deles uma ilha isolada com ganhos transitórios ou fracassos retardadores.
O exemplo do Japão é repetido, louvado e didático. A famosa decisão do
imperador Meiji de obrigar todos a estudar deu no futuro a posição de liderança de que o país desfruta no mundo moderno. Não se trata apenas do
saber ler e escrever -e contar- da
educação básica, mas daquilo que Jacques Delors dizia combinar a escola
clássica com contribuições exteriores
à escola, facultar à criança o acesso às
três dimensões da educação: "ética e
cultural, científica e tecnológica, econômica e social".
Todos no Brasil falam na prioridade
à educação, mas nenhum setor é mais
abandonado, mais sucateado, mais
desprezado do que o educacional.
Não estou falando de nenhum governo, estou tratando dessa deformidade
do caráter nacional de não encontrar a
saída do desenvolvimento por um
grande projeto nacional. As diversas
mudanças de metodologia, já podemos avaliar com o tempo, foram todas
fracassadas, e nenhuma encontrou o
caminho certo.
As nossas prioridades passaram a
ser todas econômicas. Estamos grudados na taxa de juros e no preço do dólar, mas ninguém se comove com o
número de repetições ou com o despreparo na formação de professores.
E não se satanize somente a falta de
recursos. A Argentina tem uma expectativa de vida escolar de 13,5 anos,
próxima da dos Estados Unidos, 16,3
anos (o Brasil não tem estes dados).
Mas, no nosso orçamento de R$ 1,58
trilhão, pesam 11% para juros, isto é,
para nada, para pagar os especuladores da nossa última crise cambial, contra 1% para educação.
A educação tem um papel nas sociedades modernas que não tinha no
passado. O "Relatório da Unesco sobre Educação para o Século 21" enfatiza bem esse conceito. Ninguém pode
pensar que a nossa vida educacional
se esgota aos 14 anos. Temos de ter
presente que a velocidade do conhecimento no mundo moderno exige uma
"educação para a vida toda, uma permanente busca de saberes".
Resultou da minha insônia um grito
desesperado: vamos fazer um programa educacional de longo prazo, 50
anos, um século! Só assim venceremos a escravidão tecnológica e cultural que nos espera. Agora temos uma
vantagem: as novas tecnologias a serviço da educação.
Abandonemos o conceito de educação de Simões Filho, que, quando demitido da pasta da Educação e solicitado a falar mal do Getúlio, retrucou:
"Perdi o ministério, mas não perdi a
educação."
Educação no Brasil ainda é tratada
como boas maneiras.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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