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NELSON MOTTA
Coisas do Rio
RIO DE JANEIRO - Por incrível que pareça, nasci em São Paulo, na rua
Frei Caneca. Sou paulixta mêrrrmo,
mermão. Vivi a Copacabana da bossa nova, a Ipanema de Vinicius, o Leblon de Tom Jobim e, depois de oito
anos em Nova York, encontrei a Barra da Tijuca de Vera Loyola.
Não por acaso o Rio tem o título de
"mui heróica cidade de São Sebastião
do Rio de Janeiro", sobreviveu a dois
governos Brizola com um Moreira
Franco no meio. Nem Tóquio ou Nova York resistiriam. A verdade é que,
apesar deles e do prosaico casal interiorano que ocupa o poder nos últimos anos, o Rio de Janeiro continua
lindo. A dupla provinciana odeia a
capital e tem um profundo ressentimento com o que imagina ser uma
"elite da zona sul", que a despreza e
ridiculariza. Investem pesado no populismo tosco do restaurante de um
real, da farmácia de um real, do cinema de um real e assim se credenciam
como um governo de um real.
O Rio de Janeiro continua sendo a
casa dos artistas, o grande palco, a
porta de entrada no Brasil, com o
melhor e o pior do Brasil. Mas, no
Rio, até as pobrezas são diferentes: há
poucos lugares entre os mais caros e
luxuosos da cidade com vistas tão
deslumbrantes quanto as que desfrutam os favelados da Rocinha ou do
Vidigal, sobre o mar azul de São
Conrado. Ou os despossuídos da Cruzada São Sebastião e os grã-finos do
Country Club, que são vizinhos e se
misturam na praia de Ipanema, todos seminus ao sol.
Muitos desses excluídos vivem melhor do que muitos operários em suas
casinhas apertadas em subúrbios distantes, do que muita classe média sufocada em muquifos de Copacabana
e de Botafogo. E muito melhor do que
alguém nas mesmas condições econômicas vivendo na periferia de
qualquer grande cidade. Um irônico
paradoxo carioca: até entre os excluídos há privilegiados.
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