São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES A Batalha de Itararé
ROBERTO JEFFERSON
A realidade, no entanto, é penosa para o PTB de Pernambuco. São essas as razões que justificam o clima tenso em Recife. E que talvez expliquem por que alguns parlamentares do partido chegaram a pedir o rompimento do acordo político com o PT, pois não aceitavam que os nossos novos aliados se recusassem a estender a mão ao PTB. É fruto dessa mesma insatisfação a teoria sobre um acordo que envolveu cifras não menos sonhadoras. A partir daí, o PTB passou a ser condenado publicamente como um partido que se vende por milhões em troca de apoio político. Nosso projeto partidário e nossa imagem ficaram prejudicados. E sabemos que esse golpe vai dificultar nossa trajetória no curto prazo. Neste momento de dificuldade me vem à mente a imagem da Batalha de Itararé, que nunca houve. Como esse acordo em que o PT teria oferecido R$ 10 milhões ao PTB. A mim também assusta a ânsia com que algumas figuras públicas vão à mídia sugerir a instalação de uma CPI. CPI para apurar o quê? Buscam apenas os holofotes. Lembro-me da solidariedade que prestei ao senador Jorge Bornhausen pelo menos em duas ocasiões. A primeira, quando o senador Antonio Carlos o acusou de irregularidades na condução do seu partido, o PFL; e a segunda, no momento difícil pelo qual Bornhausen passou quando a pré-candidata à Presidência da República do PFL foi alvo de comentários na imprensa sob a acusação de esconder dinheiro de campanha dentro de sua empresa. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso? Em vez de pedir uma CPI, nosso prestigioso ex-chefe de Estado poderia falar muito do PTB, não como um partido que se vende por dinheiro e cargos, mas como um partido que o apoiou por quatro anos sem pedir nada em troca. O PSDB desgastou a imagem do PTB, de 2002 a 2004, ao afirmar que trocaríamos o apoio à candidatura de Ciro Gomes pela de José Serra e o faríamos por interesses subalternos. Hoje, quando começamos a firmar nossa legenda perante a opinião pública, o PSDB nos acusa novamente de vendilhões. Conhecemos essa tática de cor. Época de campanha eleitoral, entretanto, é um período em que vaca desconhece bezerro. Os falsos moralistas do momento execram o PTB, sem ter a coragem de reconhecer que o pedido ao PT não envolveu dinheiro público, mas a solicitação de apoio de um partido aliado a outro. Por essa e outras, o PTB, que vinha se posicionando contra o financiamento público de campanhas, reconhece que o artifício até aqui usado de buscar recursos na iniciativa privada para reforçar o caixa de suas candidaturas é falho, deixando os partidos à mercê de preconceitos e tabus. Para a população, assim como para a imprensa, verba de campanha é sempre vista como uma entidade do mal, como se as práticas eleitorais não estivessem reguladas pela Justiça Eleitoral, e sim pelas regras de um tráfico abominável. Não compactuamos com isso. Se o preço da transparência eleitoral deve ser explicitamente pago pela sociedade, então que venha o financiamento público. Roberto Jefferson Monteiro Francisco, 51, advogado criminalista, deputado federal pelo PTB-RJ, é o presidente nacional do partido. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Fábio Konder Comparato: Quem dá mais? Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|