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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Fábula da feijoada
SÃO PAULO - Erenice Guerra foi
atirada ao mar. Ou talvez seja melhor aderir logo à metáfora gastronômica de Lula, na entrevista de
ontem ao portal Terra, na internet.
Digamos, então, que a ministra
morreu afogada na feijoada da Casa
Civil. Como o Ratinho da fábula,
que sucumbiu à gula na véspera do
seu casamento com Dona Baratinha (aquela com "muito dinheiro
na caixinha"), depois de dizer:
- Vou dar só uma provadinha na
beirada da panela, pegar só um pedacinho de carne do feijão, e ninguém vai notar nada...
Nas palavras de Lula, "Erenice
jogou fora a chance de ser uma
grande funcionária pública". O presidente comparou as denúncias
que a engoliram a uma feijoada, da
qual seria necessário agora separar
os ingredientes para saber o que
"tem dimensão séria" e o que "é
boato" ou "não tem profundidade".
Por um lado, soa quase como elogio, ou um prêmio de consolação;
por outro, deixa a impressão de que
nessa cumbuca tem mais coisas.
Um ponto é certo: se dependesse
do governo Lula, ninguém saberia
quais eram os pedaços do porco
servidos no caldeirão do Planalto.
Está claro, também, que Erenice foi
rifada para não inviabilizar a festa
de casamento de Dona Baratinha,
que o PT insiste em fazer no dia 3.
Lula pode transformar o futebol
em metáfora do mundo, tratar os
eleitores como filhos ou comparar a
corrupção a uma grande feijoada.
Não tem, no entanto, como camuflar as evidências de que a Casa Civil estava sendo usada como um
entreposto de traficância e familismo -tudo isso sob o seu nariz.
Há, decerto, banquetes mais lesivos ao bem público país afora. Também é verdade que a fisiologia e a
corrupção não são estranhas a nenhum grande partido, do DEM e do
PSDB à procissão de legendas que
hoje se acotovelam ao redor de Lula. O caso Erenice, porém, é simbólico. E transmite da sua madrinha
uma impressão muito ruim -de
que ela nem na própria casa (civil)
cuida bem do dinheiro na caixinha.
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