São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2011

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O futuro de Marina

Tentativa da ex-candidata ao Planalto de fazer 'política 2.0', sem depender de partidos, enfrenta problemas e ameaça seu projeto

Ainda é cedo, não resta dúvida, para selar o destino político de Marina Silva, ex-senadora e ex-candidata ao Palácio do Planalto. Concorrendo pelo PV, ela obteve surpreendentes 19,6 milhões de votos no país (19,3% dos sufrágios válidos) há menos de um ano, no primeiro turno do pleito presidencial.
Tamanho apoio fez surgirem, não sem propósito, expectativas de que uma terceira força -capaz de perturbar a disputa binária entre petistas e tucanos- estaria prestes a surgir no cenário nacional. As dificuldades que Marina Silva encontra para manter acesa essa hipótese, contudo, são crescentes.
Se prevalecer o cenário que se afigura para as eleições municipais de 2012, a ex-senadora ficará sem palanques nas principais capitais. Trata-se de um resultado direto da escolha, arriscada, de um modo de fazer política que praticamente prescinde dos partidos.
Marina Silva tem preconizado, inclusive em sua coluna semanal nesta Folha, o que chama de "política 2.0". Esse programa, segundo ela, não se encaixa "nos termos partidários ou do maniqueísmo da disputa entre esquerda/direita, progressista/conservador".
Muito do apoio à senadora surgiu, de fato, de certo fastio com as estruturas partidárias tradicionais. O caciquismo, o patrimonialismo, a corrupção e a ineficiência dos serviços públicos impregnados pela lógica mais rasteira da política partidária, afinal, não desapareceram da vida pública e do noticiário ao longo dos 16 anos em que o PSDB e depois o PT comandaram o Executivo federal. Muito pelo contrário.
O maior desafio de Marina Silva sempre foi o de transformar essa rejeição à "política tradicional", difusa na sociedade, num programa assertivo de apelo popular. É sempre mais fácil dizer-se contra alguma coisa do que elaborar plataformas que exprimam, afinal, do que se é a favor. Toda vez que ensaiou este segundo passo, Marina Silva caiu nos lugares-comuns recitados por todos os outros candidatos.
Diferenciava-se mais por sua trajetória, menos pelo que propunha.
A segunda aposta arriscada da ex-candidata verde é fiar-se na expectativa de que a mobilização propiciada na internet pelas redes sociais supra a sua falta de penetração partidária. Isso tem muito de ilusório, fruto de uma leitura cheia de exageros, quase mitificada, da eleição de Barack Obama nos Estados Unidos.
Renovação na política, programática e partidária, é algo de que se ressente, sem dúvida, a sociedade brasileira. Mas o exemplo de Marina Silva só ressalta, até aqui, a impressionante força gravitacional dos partidos tradicionais, em especial dos que giram na órbita do governismo. Nada parece brotar ao redor.


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