![]() São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2011 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br Democracia maquiada Seria apenas patética, se não atropelasse os direitos fundamentais, a mais recente investida do governo argentino contra jornalistas e economistas que divulgam dados inconvenientes à gestão de Cristina Kirchner. Incomodada com a publicação frequente, pela imprensa do país, de cifras de inflação muito superiores aos números maquiados oficialmente, a Casa Rosada move na Justiça um processo contra analistas e consultorias que elaboram índices próprios de preços. Como desdobramento do processo, o juiz do caso exigiu dos principais jornais do país o envio à corte dos dados de repórteres, editores e redatores que escrevam ou tenham escrito sobre o assunto. O magistrado requereu, de início, "nomes, endereços e telefones". Agora diz que algumas informações pessoais dos jornalistas, como o e-mail privado, não precisam ser repassadas. É como tentar barrar a divulgação de que o céu é azul. Até fervorosos aliados da presidente Kirchner sabem que sua administração manipula os dados oficiais de inflação. A carestia corre a um ritmo quase três vezes mais alto que a taxa do governo, em torno de 9%. Trata-se, portanto, de mais uma tentativa grosseira de intimidação por parte de um governo que elegeu a imprensa local como inimiga. Teme-se que os profissionais relacionados possam vir a ser chamados a depor como testemunhas, no que seria uma clara violação do sigilo de fonte jornalística, garantido pela Constituição argentina -e por tantas outras em regimes democráticos- a fim de assegurar o direito da sociedade à informação. Não é apenas o direito à crítica que vem sendo desrespeitado no país vizinho, mas a simples possibilidade de expressar opiniões divergentes e de publicar informações que desagradem ao Executivo. Desta feita, o ataque à imprensa carrega o ingrediente novo de atingir também outras empresas privadas, as consultorias, que já foram multadas (em um total de mais de R$ 200 mil desde o início do ano) por divulgarem o óbvio. Intimidação desse porte do governo contra profissionais liberais só encontra paralelo em ditaduras. Insuflada por alta aprovação popular e pela perspectiva de vitória nas próximas eleições presidenciais, no mês que vem, a presidente Cristina Kirchner ganha confiança para suas investidas autoritárias e segue os passos de seu colega venezuelano, Hugo Chávez. É a democracia nesses países que, como seus índices de inflação, aparece cada vez mais maquiada. Texto Anterior: Editoriais: O futuro de Marina Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Lenta, gradual e restrita Índice | Comunicar Erros |
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