São Paulo, quinta-feira, 24 de novembro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

A agonia de Palocci

BRASÍLIA - O coordenador político do governo, Jaques Wagner, arrancou o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) de um jantar na segunda-feira para que, juntos, tentassem demover Antonio Palocci de abandonar o Ministério da Fazenda.
Greenhalgh jantava com três outros deputados governistas na casa do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, quando Jaques ligou, avisando que Palocci estava "jogando a toalha". Greenhalgh e Jaques foram então ouvir as lamentações do demissionário Palocci. E saíram desanimados.
Em menos de 24 horas, tudo mudou. Lula cedeu à pressão para manifestar apoio ao ministro, Jaques foi dizer à imprensa que tudo está maravilhoso e Palocci, como esperado, se deu bem em mais um amistoso depoimento no Congresso. A oposição nem quer mais ouvi-lo na CPI.
Além disso, Palocci faz-se de sonso, mas tem uma verdadeira máquina de versões, alternando desde a ameaça de largar tudo nas mãos do temido Mercadante até o juramento contrário, de não sair nem morto.
Daí é que, num dia, o ministro está caindo. No seguinte, está sólido feito uma rocha. No terceiro, o vice e um ministro qualquer batem nele. No quarto, depois de chuvas e trovoadas, vem Lula elogiá-lo. E nunca se sabe se, e quando, virão um Buratti ou um Poletto para implodir a rocha.
O único fato real, que atravessa dias, noites e madrugadas, é que Palocci não tem mais a mesma força que já teve no governo e que dificilmente, muito dificilmente, voltará a ter. Suas relações com Lula e com Dilma esgarçaram-se, o mercado lava as mãos e lá se foi sua aura de intocável (sob diferentes aspectos).
Resultado: Palocci pode até ficar mais um dia, uma semana, um mês, mas não convém crer piamente no compromisso de Lula ontem de que ele fica até o fim do seu governo. Depende de muitas coisas, inclusive de Buratti e do discernimento e da fidelidade do próprio Lula. É aí que moram todos os perigos.

@ - elianec@uol.com.br


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