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Notas públicas, enfim
Câmara entrega ao STF dados sobre gastos de deputados pedidos pela Folha; falta obter acesso a informações do Senado
O DIREITO à informação
obteve avanço importante, ainda que parcial, com a entrega pela
Câmara dos Deputados, ao Supremo Tribunal Federal (STF),
de dados sobre milhares de documentos solicitados em mandado de segurança da Folha.
São notas fiscais apresentadas
por parlamentares para justificar gastos com a chamada verba
indenizatória. Despesas feitas
com dinheiro do contribuinte,
mas que a Mesa da Câmara se
considerava no direito de manter longe do público. Tal sigilo
ainda subsiste para parte dos documentos do Senado.
A verba indenizatória, um aumento de salário disfarçado, foi
criada em 2001 pelo então presidente da Câmara, Aécio Neves
(PSDB-MG). Cada parlamentar
podia ter até R$ 7.000 reembolsados, contra apresentação de
comprovantes fiscais de gastos
no exercício do mandato. O valor
depois subiu para R$ 15 mil e hoje é de até R$ 34 mil.
O esforço para ganhar acesso
às notas teve início em 2003 e só
produziu frutos agora, após o escândalo que envolveu o deputado Edmar Moreira (PR-MG, ex-DEM) e notas de sua empresa de
segurança. Moreira terminou
inocentado, por alegada falta de
regras claras para uso da verba,
mas a pressão pública forçou a
decisão de divulgar os dados das
notas a partir de abril, tanto pela
Câmara quanto pelo Senado.
Permaneceram sigilosos, contudo, os documentos anteriores.
A presente cessão das informações pela Câmara resulta da
desistência do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP),
de aguardar julgamento do mérito de liminar-já derrubada-
do ministro Marco Aurélio Mello para ceder os comprovantes.
Antecipando-se à possível derrota, Temer franqueou acesso
aos 70 mil documentos, como já
fizera com todas as notas fiscais
desde abril deste ano.
O panorama que emerge do
exame minucioso dos comprovantes revelados é devastador
para a Câmara. Não faltam endereços fictícios e empresas desconhecidas entre aquelas que supostamente forneceram serviços aos parlamentares. Como no
caso do abuso com passagens aéreas e tantos outros, basta entreabrir qualquer caixa-preta do
Congresso para dela saltar toda
sorte de malversações.
O saldo, no entanto, resulta
positivo para a instituição. Hoje
qualquer deputado ou senador
pensará duas vezes antes de tratar verbas públicas como se fossem benefícios privados. Temer
já enviou para a Corregedoria 25
casos apontados pelo jornal. A
sociedade ganha poderoso instrumento de fiscalização, para
emprego em todos os níveis e setores do poder público.
A vitória da transparência só
não é completa porque os documentos obtidos dizem respeito
apenas à Câmara e aos quatro
meses finais de 2008. Continuam na obscuridade os comprovantes apresentados por deputados antes disso, desde 2001,
e todos os de senadores de 2003
até 2009.
Isso, claro, até que se manifestem o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-MA), e o ministro Joaquim Barbosa, do STF,
que aguarda pronunciamento da
Procuradoria Geral da República
sobre a ação correspondente.
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