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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Retratos de um grupo
SÃO PAULO - Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento. Com esse
nome de ecos tecnocráticos, "inodoro" para não atiçar os ânimos da
tigrada, o Cebrap, como é conhecido, nasceu em maio de 1969, fundado por professores que o AI-5 havia
banido da USP seis meses antes.
"O Cebrap era um bunker, quase
um convento, você tinha a ficção de
que ali dentro era livre", diz o seu
nome mais ilustre, aquele que o
idealizou e 25 anos depois iria se
tornar presidente da República.
O depoimento de Fernando Henrique Cardoso pode ser visto no documentário em DVD que acompanha o livro "Retrato de Grupo - 40
Anos do Cebrap" (Cosac Naify), que
será lançado hoje à noite, no Sesc
Vila Mariana, com debate entre o
próprio FHC e Chico de Oliveira.
Desde o início, o Cebrap foi um
espaço de resistência intelectual à
ditadura e um centro interdisciplinar de pesquisa, voltado às tarefas
complementares de produzir conhecimento sobre o país e colaborar para transformá-lo na prática.
Essa dupla vocação iria se traduzir em dois tipos de inserção dos intelectuais na vida pública. Por um
lado, o Cebrap foi um celeiro de
quadros e/ou políticos que a democracia absorveria a partir dos anos
80. Apesar disso, também sobreviveu ali a ideia de que a vida intelectual sai muito prejudicada quando
aqueles que devem pensar cedem à
tentação de pôr a mão na massa.
É uma posição em baixa e antipática numa época tão pragmática e
diante de um governo tão popular,
mas que o crítico Roberto Schwarz
defende: "O intelectual de esquerda, diante da vitória do capital em
nosso tempo, faria melhor aprofundando a análise crítica e guardando
distância do poder, além de fazer
oposição onde tenha sentido".
Entre tantas passagens comoventes, dois aspectos se destacam
no filme: primeiro, o orgulho de cada um por participar de uma experiência intelectual incomum e genuinamente coletiva; segundo, a
despeito dessa cumplicidade, as
grandes divergências sobre o sentido histórico dos governos FHC e
Lula e da relação entre eles.
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