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VALDO CRUZ
E o nosso, Lula Noel?
Véspera de Natal, poderíamos
dizer que Papai Noel foi generoso
com o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. O petista recebeu presentes valiosos neste seu primeiro ano de governo. Tantos que esbanjava felicidade nos últimos dias.
Da população, ganhou talvez o mais
importante deles: a compreensão
num ano de crise aguda na economia.
Mesmo com desemprego elevado e
crescimento quase zero -se não for
zero-, Lula termina o ano com elevados índices de aprovação.
Do mercado financeiro e do Fundo
Monetário Internacional, recebeu o
reconhecimento de aluno bem-comportado, nota dez, ao promover um
severo ajuste na economia, com juros
altos e gastos reprimidos. Resultado:
foi restaurada a credibilidade externa
brasileira.
Do Congresso, levou uma safra de
regalos. No finalzinho do ano, os senadores entregaram ao presidente aprovadas as reformas da Previdência e a
tributária. A segunda garantiu-lhe poder continuar cobrando a CPMF, o
chamado imposto do cheque, até o final do mandato. Um presentão.
Não foi só. Deputados e senadores
foram bastante generosos. Outros mimos foram concedidos a Lula. Entre
eles, a prorrogação da alíquota de
27,5% do Imposto de Renda da Pessoa
Física e a nova Cofins, duas medidas
que vão engordar o caixa do Tesouro
Nacional.
Pela lista acima, Lula tem motivos de
sobra para comemorar. Ganhou muito num ano de tanta escassez. Distribuiu, porém, muito, mas muito pouco
para um país tão carente. Quase nada.
Faltou a contrapartida para os brasileiros, que, em sua grande maioria,
não tiveram a mesma sorte presidencial.
O Lula Noel acabou não dando as
caras neste ano. Parece ter esquecido
seu trenó em algum canto do Palácio
da Alvorada. Até que o petista andou
prometendo um Natal gordo aos brasileiros. Anunciou um espetáculo do
crescimento que não veio. Ensaiou
um programa social que patinou o
ano inteiro. Viu o desemprego subir e
a renda do trabalhador cair, em média, cerca de 10%. Sem falar num ministério que mais bateu cabeça do que
serviu ao país.
Por onde passa, Lula costuma dizer
que a responsabilidade é do antigo
morador do Alvorada. Um tucano
que teria deixado o trenó num estado
lastimável, totalmente quebrado. Não
dava para alçar vôo além do gramado
da residência presidencial.
É uma desculpa. Batida, mas é uma
desculpa. O brasileiro médio parece
ter acreditado. Está resignado, com
certeza. Mas não tão feliz como o presidente nos últimos dias. É que o brasileiro não tem tantos motivos para
comemorar. Se é que tem algum.
No ano que vem, o que o brasileiro
espera é que o Lula Noel, enfim, mostre serviço. Será o ano da verdade do
PT. Afinal, ele terá tido tempo suficiente para reparar os defeitos do trenó presidencial. Caso contrário, as
pressões, abafadas em 2003, podem
explodir em 2004. Mais um Natal de
privações, ninguém vai querer.
No Palácio do Planalto, o discurso é
que esse risco Lula não corre. O próximo ano poderá não ser o dos sonhos
do presidente, mas será melhor do
que este. É o que dizem.
De onde vem tanta segurança? Alardeiam os petistas que é exatamente da
pindaíba desse ano. Lula decidiu fazer
sacrifícios no primeiro ano e pensar
no longo prazo. Tudo bem. Só que os
maiores sacrificados foram os brasileiros. Um próximo Natal magro ninguém vai suportar.
Valdo Cruz é diretor-executivo da Sucursal de
Brasília. Hoje, excepcionalmente, não é publicado
o artigo de Delfim Netto, que escreve nesta coluna às quartas-feiras.
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