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O PATAMAR DO CÂMBIO
A valorização constante do real já
desperta entre economistas e analistas do mercado financeiro a discussão sobre a cotação a partir da qual o
dólar baixo funcionaria como inibidor das exportações; a partir da qual
se justificaria uma intervenção do
Banco Central para restringir a oferta
de dólares e, assim, forçar a desvalorização da moeda brasileira.
É temerário, em um modelo de
câmbio flutuante tal como o adotado
no Brasil, estabelecer pisos ou tetos
para a variação das cotações monetárias. Uma das virtudes do sistema ora
vigente é desestimular, ou tornar bastante arriscada, a especulação contra
a moeda. Ora, uma vez que o Banco
Central dá a entender que, a partir de
uma dada cotação, intervirá no mercado, essa vantagem comparativa se
reduz. Em outras palavras, do mesmo modo que age para conter a depreciação excessiva, ao atuar no sentido contrário o BC deveria dar o mínimo de pistas possível, isto é, deixar
incerto o mercado.
Adotar o câmbio flutuante não significa deixar de empreender política
ativa nesse setor, embora o BC tenha
relutado um pouco antes de passar a
intervir, no ano passado, em situações de valorização indesejável. Portanto, conter a alta que possa comprometer outras metas da política
econômica também é compatível
com a flutuação cambial.
O real mais valorizado acaba por
aliviar a dívida pública atrelada ao dólar, cerca de 40% de seu total, como,
aliás, se viu recentemente nos resultados das contas públicas de novembro divulgados pelo Banco Central (a
relação dívida/Produto Interno Bruto
foi bem melhor do que se esperava
para o ano passado). Também alivia
pressões inflacionárias. Por outro lado, o real sobrevalorizado cria entraves às exportações, essenciais para o
equilíbrio das contas nacionais.
Assim, trata-se de uma equação delicada com que têm de lidar com prudência os técnicos do BC, em harmonia com a política econômica do governo. Prudência que, ademais, pode
pautar a própria forma de atuação no
caso de conter a valorização do real,
retomando o resgate de parte da dívida lastreada em dólares, sem intervenções abruptas no mercado.
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