São Paulo, Terça-feira, 25 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

O PATAMAR DO CÂMBIO

A valorização constante do real já desperta entre economistas e analistas do mercado financeiro a discussão sobre a cotação a partir da qual o dólar baixo funcionaria como inibidor das exportações; a partir da qual se justificaria uma intervenção do Banco Central para restringir a oferta de dólares e, assim, forçar a desvalorização da moeda brasileira.
É temerário, em um modelo de câmbio flutuante tal como o adotado no Brasil, estabelecer pisos ou tetos para a variação das cotações monetárias. Uma das virtudes do sistema ora vigente é desestimular, ou tornar bastante arriscada, a especulação contra a moeda. Ora, uma vez que o Banco Central dá a entender que, a partir de uma dada cotação, intervirá no mercado, essa vantagem comparativa se reduz. Em outras palavras, do mesmo modo que age para conter a depreciação excessiva, ao atuar no sentido contrário o BC deveria dar o mínimo de pistas possível, isto é, deixar incerto o mercado.
Adotar o câmbio flutuante não significa deixar de empreender política ativa nesse setor, embora o BC tenha relutado um pouco antes de passar a intervir, no ano passado, em situações de valorização indesejável. Portanto, conter a alta que possa comprometer outras metas da política econômica também é compatível com a flutuação cambial.
O real mais valorizado acaba por aliviar a dívida pública atrelada ao dólar, cerca de 40% de seu total, como, aliás, se viu recentemente nos resultados das contas públicas de novembro divulgados pelo Banco Central (a relação dívida/Produto Interno Bruto foi bem melhor do que se esperava para o ano passado). Também alivia pressões inflacionárias. Por outro lado, o real sobrevalorizado cria entraves às exportações, essenciais para o equilíbrio das contas nacionais.
Assim, trata-se de uma equação delicada com que têm de lidar com prudência os técnicos do BC, em harmonia com a política econômica do governo. Prudência que, ademais, pode pautar a própria forma de atuação no caso de conter a valorização do real, retomando o resgate de parte da dívida lastreada em dólares, sem intervenções abruptas no mercado.



Próximo Texto: Editorial: A GUERRA DOS REMÉDIOS
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.