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O PT "MOBILIZA" O IBGE
É lamentável a oposição de lideranças do PT à divulgação
dos resultados da pesquisa mensal
de desemprego pela nova metodologia do IBGE. Os argumentos do senador eleito Aloizio Mercadante não
disfarçam a intenção de minimizar
os impactos negativos para a popularidade do governo Luiz Inácio Lula
da Silva da divulgação de índices
mais altos de desemprego. Fica em
segundo plano o interesse público de
ter acesso a dados mais fidedignos
sobre a mal compreendida realidade
do trabalho no Brasil.
Não houve nenhuma novidade em
o IBGE divulgar os resultados de sua
pesquisa de desemprego pela nova
metodologia. O anúncio formal de
que haveria essa mudança foi feito
em meados de 2002, mas a comunidade usuária de pesquisas no Brasil
já sabia da alteração com pelo menos
um ano de antecedência e muitos de
seus representantes, incluindo economistas do PT, participaram das
discussões sobre a mudança do método. Houve um largo período de
testes da nova metodologia antes que
ela passasse ao status oficial.
Se Mercadante estava mesmo preocupado com o desgaste político de
um aumento nas taxas de desemprego na passagem da gestão FHC para
a Lula, o próprio IBGE acaba de anular o argumento. Divulgou o desemprego de 2002 de acordo com a nova
metodologia. Resultado: já é público
e notório que o último ano de mandato de FHC registrou uma taxa média de desemprego de 11,7%, quando, pelo esquadro antigo, essa média
ficou em torno de 7%.
É inevitável que, com a mudança de
método, haja prejuízo em termos de
base comparativa de dados. Mas esse
prejuízo não é total -pode ser recuperado por testes econométricos- e
não justifica a permanência de uma
metodologia amplamente criticada e
desalinhada com o cânone da Organização Internacional do Trabalho.
Do episódio emana um ranço do
passado. Parece que o esforço mobilizador do PT não respeita nem a autonomia técnica do instituto nacional de pesquisas. Não é desejável o
retorno de práticas que visem a inibir
a divulgação de números e estatísticas inconvenientes.
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