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São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 2003

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O PT "MOBILIZA" O IBGE

É lamentável a oposição de lideranças do PT à divulgação dos resultados da pesquisa mensal de desemprego pela nova metodologia do IBGE. Os argumentos do senador eleito Aloizio Mercadante não disfarçam a intenção de minimizar os impactos negativos para a popularidade do governo Luiz Inácio Lula da Silva da divulgação de índices mais altos de desemprego. Fica em segundo plano o interesse público de ter acesso a dados mais fidedignos sobre a mal compreendida realidade do trabalho no Brasil.
Não houve nenhuma novidade em o IBGE divulgar os resultados de sua pesquisa de desemprego pela nova metodologia. O anúncio formal de que haveria essa mudança foi feito em meados de 2002, mas a comunidade usuária de pesquisas no Brasil já sabia da alteração com pelo menos um ano de antecedência e muitos de seus representantes, incluindo economistas do PT, participaram das discussões sobre a mudança do método. Houve um largo período de testes da nova metodologia antes que ela passasse ao status oficial.
Se Mercadante estava mesmo preocupado com o desgaste político de um aumento nas taxas de desemprego na passagem da gestão FHC para a Lula, o próprio IBGE acaba de anular o argumento. Divulgou o desemprego de 2002 de acordo com a nova metodologia. Resultado: já é público e notório que o último ano de mandato de FHC registrou uma taxa média de desemprego de 11,7%, quando, pelo esquadro antigo, essa média ficou em torno de 7%.
É inevitável que, com a mudança de método, haja prejuízo em termos de base comparativa de dados. Mas esse prejuízo não é total -pode ser recuperado por testes econométricos- e não justifica a permanência de uma metodologia amplamente criticada e desalinhada com o cânone da Organização Internacional do Trabalho.
Do episódio emana um ranço do passado. Parece que o esforço mobilizador do PT não respeita nem a autonomia técnica do instituto nacional de pesquisas. Não é desejável o retorno de práticas que visem a inibir a divulgação de números e estatísticas inconvenientes.


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