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REALIDADE HORIZONTAL
Há em Brasília a expectativa de
que a emenda constitucional
que põe fim à chamada verticalização das candidaturas seja votada hoje
na Câmara dos Deputados. No sistema vigente, fruto de interpretação da
lei emanada do Tribunal Superior
Eleitoral em 2002, as alianças entre
partidos para o pleito presidencial
não podem ser desrespeitadas nas
eleições para governos de Estado.
Isso quer dizer que, se a coligação
de A e B pleiteia a Presidência contra
a chapa de C e D, nos Estados jamais
poderão ocorrer os arranjos A e C, A
e D nem B e D. Se não quiserem repetir a associação nacional, as legendas
podem concorrer sozinhas aos governos estaduais. Também têm a opção de selar alianças com siglas que
não tenham candidato presidencial.
Nessa última hipótese reside uma
das incongruências da norma. Legendas que optem por não concorrer
ao Planalto ganham o bônus de estarem aptas a associar-se com quem
bem entenderem nos Estados. Pensado para estimular os partidos a serem coerentes nacionalmente, o dispositivo favorece, no caso, o regionalismo e a mixórdia aliancista.
As diferenças regionais, aliás, não
deveriam ser negligenciadas pela lei
eleitoral. O Brasil tem a dimensão de
um continente, e os arranjos políticos refletem realidades locais, frutos
de evoluções históricas peculiares,
que não se repetem em todo o país. É
preferível uma regra liberal, que permita a essa realidade assimétrica expressar-se, à tutela que tenta "corrigir" o regionalismo.
Seguindo o princípio, é melhor deixar ao jogo das forças políticas e ao
eleitorado o trabalho de depurar os
partidos brasileiros. Esse processo
poderá resultar, ao longo do tempo,
no reforço do caráter nacional e programático das principais agremiações. Mas também pode consagrar o
modelo atual, em que algumas legendas são mais inteiriças, enquanto
outras têm inserções regionais muito diferentes entre si.
A democracia requer tempo, rotina
e o maior grau de liberdade possível
para amadurecer. Por isso, a verticalização deveria ser derrubada.
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