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CLÓVIS ROSSI
Os bancos e os tóxicos
PARIS - Começo por onde terminou ontem seu texto esse excelente
repórter chamado Fernando Canzian. Ele desconfiou, com razão, dos
"spreads" cobrados pelos bancos,
ou seja, da diferença entre o que pagam a seus clientes e o que cobram
por seus empréstimos.
Eu estenderia a desconfiança ao
conjunto da obra. Afinal, não dá para entender como é que um banco
como o Santander pode produzir
um relatório decretando ser "impecável" o "timing" das operações de
Bernard Madoff, o vigarista travestido de investidor que deu um tombo de US$ 20 bilhões em gente que
se acha esperta.
O relatório foi produzido dias antes de Madoff ser preso, o que o torna ainda mais surrealista.
Explicito esse caso por uma razão
simples: o patriarca do Santander,
Emilio Botín, se nascesse no Brasil,
o faria necessariamente no interior
de Minas Gerais pelo caráter desconfiado que se atribui à boa gente
mineira, ao caipira mais sábio que
os cosmopolitas espertos que caíram no conto Madoff.
Se um braço de um banco que teria tudo para ser "mineiro", no sentido de cautela, cai num conto como
esse, como confiar em todas as operações de todos os bancos que não
são "mineiros"?
Ainda mais que tudo parece ser
feito para o cliente não entender
mesmo. É verdade que eu nunca
entendi como lidar com dinheiro.
Mas imagino que a grande maioria
dos mortais comuns tampouco entende o palavrório bancário, feito
de "hedge funds", derivativos, fundos com os mais diversos e cifrados
nomes etc.
Alguma surpresa com o fato de
que agora -e só agora- se descobre
que boa parte dos ativos que o sistema financeiro maneja são dados como "tóxicos"? O Banco Central deveria colocar um aviso à porta de todas as agências bancárias: "Não deixe os produtos encontráveis aí dentro ao alcance de crianças". Pelo
menos elas estariam a salvo.
crossi@uol.com.br
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