São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Os bancos e os tóxicos

PARIS - Começo por onde terminou ontem seu texto esse excelente repórter chamado Fernando Canzian. Ele desconfiou, com razão, dos "spreads" cobrados pelos bancos, ou seja, da diferença entre o que pagam a seus clientes e o que cobram por seus empréstimos.
Eu estenderia a desconfiança ao conjunto da obra. Afinal, não dá para entender como é que um banco como o Santander pode produzir um relatório decretando ser "impecável" o "timing" das operações de Bernard Madoff, o vigarista travestido de investidor que deu um tombo de US$ 20 bilhões em gente que se acha esperta.
O relatório foi produzido dias antes de Madoff ser preso, o que o torna ainda mais surrealista. Explicito esse caso por uma razão simples: o patriarca do Santander, Emilio Botín, se nascesse no Brasil, o faria necessariamente no interior de Minas Gerais pelo caráter desconfiado que se atribui à boa gente mineira, ao caipira mais sábio que os cosmopolitas espertos que caíram no conto Madoff. Se um braço de um banco que teria tudo para ser "mineiro", no sentido de cautela, cai num conto como esse, como confiar em todas as operações de todos os bancos que não são "mineiros"?
Ainda mais que tudo parece ser feito para o cliente não entender mesmo. É verdade que eu nunca entendi como lidar com dinheiro. Mas imagino que a grande maioria dos mortais comuns tampouco entende o palavrório bancário, feito de "hedge funds", derivativos, fundos com os mais diversos e cifrados nomes etc.
Alguma surpresa com o fato de que agora -e só agora- se descobre que boa parte dos ativos que o sistema financeiro maneja são dados como "tóxicos"? O Banco Central deveria colocar um aviso à porta de todas as agências bancárias: "Não deixe os produtos encontráveis aí dentro ao alcance de crianças". Pelo menos elas estariam a salvo.

crossi@uol.com.br


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