São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Nem agressão, nem capitulação. Oposição
JORGE BORNHAUSEN
Pois foi esse o sentido da declaração oposicionista que fiz da tribuna do Senado em nome do meu partido. Saboreei silenciosamente -evitando a ironia da situação, pois cultivo a humildade para compreender as fraquezas humanas- a perplexidade com que minhas palavras foram recebidas. Depois da devastadora "onda vermelha" das eleições gerais de 2002, que inaugurou no Brasil a saudável alternância do poder entre tendências ideológicas antípodas, a sociedade espera avidamente não apenas que a nova administração mostre uma nova face do Estado, mas que os partidos se definam ante essa realidade. O prazo para o reinício do jogo político venceu com a reabertura dos trabalhos do Congresso Nacional. Para começar, e lembrando que nenhum mal é absoluto e que a alternância do poder entre partidos e ideologias não constitui um juízo final nas democracias, declarei que, mesmo sem aderir ao aforismo popular de que há males que vêm para o bem, o PFL está usufruindo do mal que acreditamos ter sido a eleição dos nossos adversários do PT. Uma opção temerária da sociedade e contra a qual nos opusemos. Mas, já que o povo quis e o povo pode, o presidente Lula está no poder e esperamos que o exerça, na plenitude das prerrogativas constitucionais, pelos próximos quatro anos. Obrigado infelizmente a esse longo preâmbulo -até mesmo porque o tipo de oposição grosseira que fez o PT exige a declaração prévia de que reconhecemos a legitimidade do presidente Lula e sua honorabilidade pessoal-, vamos por onde deveríamos ter começado, ou seja, pela exigência de que faça no governo o que reclamava que os outros não faziam e que cumpra seu longo repertório de promessas; que não incida na repetição do que criticava; que não repita o que denunciava como suspeito ou que se desculpe pelos erros de ótica ou avaliação com que denegriu projetos, obras e ações dos governos. Da nossa parte, não planejamos repetir os gritos insensatos de "fora FHC" e as agressões verbais -e até físicas (lembrai-vos dos ataques a Covas em São Paulo)-, mas prometemos a crítica vigorosa, constante, objetiva, direta, firme. Ou seja, sem agressões ou grosserias. Oposição não é uma alternativa à adesão, muito menos à capitulação, mas o papel que a democracia reserva aos que discordam e não participam, sob nenhuma condição, do governo. Pelo que, como diziam os velhos tribunos parlamentares, tenho dito. E esperamos demonstrar. Jorge Bornhausen, 65, senador pelo PFL de Santa Catarina, é presidente nacional do partido. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Marcelo Carvalho Ferraz: Memória do futuro Índice |
|