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Expulsos do paraíso
Fracasso parcial de planos de socorro dos países ricos infla expectativas sobre a próxima cúpula do G20, em abril
MARCADA PARA o próximo dia 2 de abril,
em Londres, a reunião do G20 -grupo dos países mais industrializados, que abrange China, Índia e
Brasil- torna-se alvo de grandes
expectativas a propósito do combate à crise financeira. A julgar
pelo tom das declarações de líderes europeus e analistas, após
encontro preparatório deste domingo em Berlim, é como se um
fracasso da cúpula no Reino Unido significasse um desastre.
"Não podemos falhar em Londres. Não podemos aceitar que
nada nem ninguém se coloque
no caminho desta cúpula, que será histórica", afirmou o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Expectativas tão exageradas decorrem, na verdade, de um
fato preocupante: ainda não surtiram efeito todas as iniciativas
patrocinadas pelos países ricos,
que despejaram centenas de bilhões de dólares com o fito de deter a marcha da crise.
Nada mais típico da política,
nesse contexto, que depositar no
próximo encontro dos principais
governantes mundiais a esperança de uma guinada no curso
dos acontecimentos. Será a primeira vez, além disso, que o novo
presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, participará de
uma cúpula para tratar especificamente do descalabro econômico global.
Pelo que se sabe das discussões
preliminares de Londres, contudo, é difícil enxergar de onde
possa partir algo realmente novo
e capaz de modificar a situação
-feita a devida ressalva de que o
próprio encontro, ao reforçar a
disposição dos líderes mundiais
de desenvolver uma saída organizada e coletiva, já produz um
efeito benéfico indiscutível.
Das decisões comunicadas em
razão do encontro de líderes europeus no domingo, por exemplo, apenas o reforço no caixa do
Fundo Monetário Internacional
teria consequências mais imediatas. Na esteira da bonança
que antecedeu a crise, um grupo
de países emergentes -caso de
países europeus que integravam
o antigo bloco socialista- aproveitou a abundância de capital e
multiplicou seu endividamento
em moeda estrangeira. Após a
reviravolta financeira, o FMI
tornou-se a tábua de salvação para essas nações.
Outra bandeira empunhada
pelos líderes da Europa, a regulamentação total dos mercados financeiros, já ganha ares de cruzada. O bloco vai defender que o
G20 aperte o cerco contra os
chamados paraísos fiscais -países, em geral nanicos, que oferecem todo tipo de isenção, além
de sigilo absoluto, a empresas e
aplicadores que depositem lá
seus recursos. Variadas formas
de contravenção e ilegalidade
encontram refúgio nesses locais.
Não é aconselhável, entretanto, tomar as declarações exaltadas dos governantes pelo valor
de face. Os paraísos fiscais têm
sido alvejados retoricamente
sempre que surge uma crise financeira no planeta. Mas, quando passa a tormenta, voltam a ser
convenientemente tolerados.
Que desta vez o compromisso seja para valer, e os espertalhões
sejam definitivamente expulsos
do paraíso.
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