São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Expulsos do paraíso

Fracasso parcial de planos de socorro dos países ricos infla expectativas sobre a próxima cúpula do G20, em abril

MARCADA PARA o próximo dia 2 de abril, em Londres, a reunião do G20 -grupo dos países mais industrializados, que abrange China, Índia e Brasil- torna-se alvo de grandes expectativas a propósito do combate à crise financeira. A julgar pelo tom das declarações de líderes europeus e analistas, após encontro preparatório deste domingo em Berlim, é como se um fracasso da cúpula no Reino Unido significasse um desastre.
"Não podemos falhar em Londres. Não podemos aceitar que nada nem ninguém se coloque no caminho desta cúpula, que será histórica", afirmou o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Expectativas tão exageradas decorrem, na verdade, de um fato preocupante: ainda não surtiram efeito todas as iniciativas patrocinadas pelos países ricos, que despejaram centenas de bilhões de dólares com o fito de deter a marcha da crise.
Nada mais típico da política, nesse contexto, que depositar no próximo encontro dos principais governantes mundiais a esperança de uma guinada no curso dos acontecimentos. Será a primeira vez, além disso, que o novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, participará de uma cúpula para tratar especificamente do descalabro econômico global.
Pelo que se sabe das discussões preliminares de Londres, contudo, é difícil enxergar de onde possa partir algo realmente novo e capaz de modificar a situação -feita a devida ressalva de que o próprio encontro, ao reforçar a disposição dos líderes mundiais de desenvolver uma saída organizada e coletiva, já produz um efeito benéfico indiscutível.
Das decisões comunicadas em razão do encontro de líderes europeus no domingo, por exemplo, apenas o reforço no caixa do Fundo Monetário Internacional teria consequências mais imediatas. Na esteira da bonança que antecedeu a crise, um grupo de países emergentes -caso de países europeus que integravam o antigo bloco socialista- aproveitou a abundância de capital e multiplicou seu endividamento em moeda estrangeira. Após a reviravolta financeira, o FMI tornou-se a tábua de salvação para essas nações.
Outra bandeira empunhada pelos líderes da Europa, a regulamentação total dos mercados financeiros, já ganha ares de cruzada. O bloco vai defender que o G20 aperte o cerco contra os chamados paraísos fiscais -países, em geral nanicos, que oferecem todo tipo de isenção, além de sigilo absoluto, a empresas e aplicadores que depositem lá seus recursos. Variadas formas de contravenção e ilegalidade encontram refúgio nesses locais.
Não é aconselhável, entretanto, tomar as declarações exaltadas dos governantes pelo valor de face. Os paraísos fiscais têm sido alvejados retoricamente sempre que surge uma crise financeira no planeta. Mas, quando passa a tormenta, voltam a ser convenientemente tolerados. Que desta vez o compromisso seja para valer, e os espertalhões sejam definitivamente expulsos do paraíso.


Próximo Texto: Editoriais: Rio-2016

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.