São Paulo, quinta-feira, 25 de março de 2004

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MINISTRO EM CRISE

Vai se mostrando pródiga a capacidade do ministro José Dirceu de colocar-se no epicentro de crises políticas. Antes de eclodir o caso Waldomiro Diniz, os atritos podiam ser atribuídos à centralização pelo titular da Casa Civil de tarefas de vulto, como a coordenação política do governo e a articulação de sua inquieta base parlamentar.
Assoberbado com a inépcia de grande parte dos ministérios, com o "fogo amigo" e com as sempre complexas negociações do balcão político, o ministro tinha a seu favor um respeitável capital político, além da dedicação e das qualificações pessoais para o exercício da função.
O militante esquerdista de outras décadas chegou ao poder com a fama de ter sido um dos responsáveis pela estratégia petista de conquistar votos deslocando-se para o centro do espectro político. Homem de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o chamou de "capitão do time", Dirceu assumiu, já no início do governo, o papel de braço direito do primeiro mandatário.
Todavia, desde que vieram à luz as revelações sobre as condutas irregulares de seu assessor Waldomiro Diniz, o ministro sofre acelerado desgaste. Muitos consideram que melhor teria sido seu afastamento da função até que as investigações chegassem a uma fase conclusiva. O presidente Lula, no entanto, opôs-se firmemente a essa hipótese.
Anteontem, foi o próprio presidente quem repreendeu o ministro, levando-o a divulgar um pedido de desculpas por ter disparado sua metralhadora giratória e atingido governadores, representantes da oposição e o Ministério Público. Os ataques provocaram fortes reações, como as do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que viu "falta de controle" por detrás das declarações, tendo recomendado a seu oponente "autocrítica, humildade e férias".
Tudo indica que o ministro José Dirceu terá que fazer um esforço hercúleo para recobrar as condições necessárias a um bom desempenho na coordenação política do governo. E nada garante que conseguirá.


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