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ELIANE CANTANHÊDE
Câmara ardente
BRASÍLIA - José Dirceu tem uma densa história de vida, o comando do
PT e boa capacidade de arregimentação e de articulação. O problema não
É ele, mas ESTÁ nele. Com Dirceu no
Planalto, a crise está no Planalto.
Brasília já viu esse filme mil vezes.
O ministro ou assessor de primeiro time entra no alvo, fica dias, semanas,
meses tentando escapar do tiroteio
até tombar. Adiar a queda só piora
as coisas -para o réu ou vítima (depende do caso) e para o governo.
A crise que era Waldomiro e virou
Dirceu piora ainda mais a péssima
gestão de governo, atiça o fisiologismo da base aliada, concentra as
atenções da mídia e fatalmente chega
aos mercados. Ontem, a Bolsa baixou, o dólar subiu. O de sempre.
A queda costuma corresponder à
personalidade de quem cai. Um fica
depressivo, outro, agressivo, vários
saem atirando. Dirceu atira a ermo, e
os seus miram a política de Palocci. O
tiroteio contra um ministro virou fogo cruzado contra o pilar do governo.
Lula tem bons motivos para questionar se é melhor manter ou tirar
Dirceu, mas o próprio Dirceu vai acabar percebendo que só está adiando a
agonia. Teve chance de sair por cima
no início, se explicar e voltar. Pôde,
depois, manter sob controle a crise, a
base e o PT. Tudo o que tem feito, porém, é o contrário disso: ficou, acusou, acirrou, até perder as estribeiras
e passar a atacar inclusive os aliados
em potencial na crise.
Em minutos, numa entrevista, Dirceu botou em guarda os governadores do PSDB que Lula acabara de bajular com viagens, jantares e sorrisos.
De quebra, botou o Ministério Público em posição de ataque. Errou. Waldomiros e Burattis andam soltos por
aí. Nunca se sabe quando e o quanto
o governo e o próprio Dirceu vão precisar dos procuradores.
Enquanto ele se debate, já se discute
abertamente quem poderia ser o sucessor na Casa Civil. E aí começa um
outro problema: com os quadros que
tem na Câmara, no Senado e no próprio governo, quem o PT tem à mão
para substituir o poderoso Dirceu? É
dramático.
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