São Paulo, quinta-feira, 25 de abril de 2002

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FIXAÇÃO ARGENTINA

Depois da renúncia de Remes Lenicov, a grande questão na Argentina é saber qual caminho adotará Eduardo Duhalde daqui para a frente. As perspectivas para a economia do país são sombrias.
O FMI projetou que a renda anual per capita dos argentinos vai cair de US$ 7,3 mil, durante o câmbio fixo, para algo em torno de US$ 1,85 mil, com a desvalorização e a depressão econômica. Esse indicador dá uma idéia da profundidade da crise e explicita a fragilidade da estratégia do governo Duhalde: administrar as perdas até a liberação de um novo aporte do Fundo, o que possibilitaria, em tese, o retorno do país ao mercado financeiro internacional.
Pronunciamentos do governo Bush e do FMI deixam claro que o caminho para a Argentina receber dinheiro novo é difícil e incerto. A comunidade financeira internacional não deve ampliar seus investimentos no país (sete bancos estrangeiros anunciaram perdas de US$ 8,5 bilhões no primeiro trimestre e um banco canadense foi liquidado).
Restaria ao governo Duhalde redefinir sua estratégia mediante um novo modelo de crescimento. Setores da base de sustentação do governo -parlamentares, governadores e sindicalistas- pressionam pela adoção de uma taxa de câmbio fixa, com sistema de bandas cambiais. Para dificultar a fuga dos pesos congelados, pretende-se impedir a liberação dos depósitos bancários, possibilitada pela obtenção de liminares na Justiça. O governo federal acenou também com um novo acordo com as Províncias para conter os gastos, como exigido pelo Fundo.
A possibilidade, ainda assim remota, de êxito do retorno ao câmbio fixo na Argentina parece depender da adoção de algum controle rígido de câmbio. Sem isso, as parcas reservas internacionais do país seriam alvo fácil de ataques especulativos.
Mas o que é certo é que a fixação do peso -ou qualquer outra fórmula econômica- não terá a mínima chance de sucesso sem que haja, na população, a retomada da confiança na política e na moeda nacionais.


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