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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Tiro ao alvo

BRASÍLIA - Rosinha nomeou Garotinho secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, produzindo uma história que vai do cômico ao trágico.
Cômico porque tudo no Rio, faz tempo, beira o nonsense. Agora, Garotinho passa de governador a secretário, ficando subordinado às ordens da própria mulher. Ou, ao contrário, a governadora é quem vai ficar subordinada ao secretário.
E trágico porque certamente não é a troca de um Josias Quintal por um Anthony Garotinho, ou por um João, um Pedro ou um Antônio que vai resolver aquela guerra civil do dia-a-dia do Rio. Só aumenta a perplexidade e o desânimo.
Na origem de tudo isso está a queda-de-braço entre o governo Lula e Rosinha-Garotinho. Os petistas de Brasília tentam, ou ameaçam, isolar o casal tanto no PSB quanto no conjunto de governadores. E os peessebistas do Rio resolveram armar trincheiras e reagir. Com uma curiosidade: Lula se prontificou a ficar com o abacaxi da segurança no Rio, mas os Garotinhos rejeitaram. O abacaxi é deles e não abrem.
Pobre povo do Rio de Janeiro!
Agora, com Garotinho no novo cargo, Planalto e Laranjeiras começam a se entender. O Rio adere ao programa de segurança fechado com o Espírito Santo e articulado com Minas e Alagoas, por exemplo. E Brasília engaveta a drástica opção da intervenção federal. Por ora, pelo menos.
O fato é que Garotinho se colocou na mira, tanto política quanto policial, e está sujeito a dois extremos. Se os crimes, incêndios e barbaridades do Rio continuarem iguaizinhos, a derrota -administrativa e política- é dele. Se diminuírem sensivelmente, sempre haverá maldosos no governo federal, no Congresso e na imprensa para desconfiar: teria havido algum acerto entre o ex-governador e o Comando Vermelho?
Além do aspecto tragicômico, a nomeação de Garotinho configura uma manobra de altíssimo risco. Mas, como a gente vive dizendo, o Rio não comporta nenhuma solução ordinária, só extraordinária. E bota extraordinária nisso!


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