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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O foco, o verdadeiro

BUENOS AIRES- Perdão pelo péssimo jogo de palavras, mas a discussão focalização x universalização (do gasto social) tira o foco do real debate.
Começa pela falsa questão de ser ou não a focalização uma exigência do FMI/Banco Mundial. Se for, e daí? O PT não aceitou as exigências macroeconômicas do Fundo a ponto de radicalizar no superávit fiscal primário? Se aceitou o mais (o acordão), tem de aceitar o menos (uma mera indicação sobre focalização).
A questão é outra e simples: com o acordo com o Fundo, nos termos em que está sendo tocado, sobra dinheiro para investir o necessário no social, focalizada ou universalmente? Resposta também simples: não.
O acordo, o superávit de 4,25%, o rigor monetário -tudo isso pode ser necessário, inevitável. Mas dizer que, mesmo assim, é possível atacar a miséria é conversa para boi dormir.
Ponto dois: a grande política social ainda é, feliz ou infelizmente, o crescimento. Crescimento gera emprego, que gera renda, e ambos geram auto-estima e possibilidades de ascensão social. Claro que há todo um imenso elenco de outras providências, porque a história do Brasil prova clara e insofismavelmente que o crescimento, mesmo explosivo, não foi capaz nem mesmo de servir de aspirina para as mazelas sociais.
Mas, sem crescimento, tudo o mais fica infinitamente mais complicado, praticamente impossível.
Então, a segunda pergunta simples é esta: a política econômica atual é capaz de induzir um crescimento no tamanho necessário?
De novo, a resposta é espantosamente simples: está no desempenho econômico pífio verificado nos oito anos de FHC, nos quais a política fiscal foi até mais frouxa do que a atual.
Se vivo fosse, Sérgio Motta diria que centrar a discussão em focalização x universalização, pelo menos nesta altura do campeonato, é masturbação sociológica. Pena que falte um Sérgio Motta no governo do PT. Longa vida a ele, se e quando surgir.


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