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CLÓVIS ROSSI
O foco, o verdadeiro
BUENOS AIRES- Perdão pelo péssimo
jogo de palavras, mas a discussão focalização x universalização (do gasto
social) tira o foco do real debate.
Começa pela falsa questão de ser ou
não a focalização uma exigência do
FMI/Banco Mundial. Se for, e daí? O
PT não aceitou as exigências macroeconômicas do Fundo a ponto de radicalizar no superávit fiscal primário?
Se aceitou o mais (o acordão), tem de
aceitar o menos (uma mera indicação sobre focalização).
A questão é outra e simples: com o
acordo com o Fundo, nos termos em
que está sendo tocado, sobra dinheiro
para investir o necessário no social,
focalizada ou universalmente? Resposta também simples: não.
O acordo, o superávit de 4,25%, o
rigor monetário -tudo isso pode ser
necessário, inevitável. Mas dizer que,
mesmo assim, é possível atacar a miséria é conversa para boi dormir.
Ponto dois: a grande política social
ainda é, feliz ou infelizmente, o crescimento. Crescimento gera emprego,
que gera renda, e ambos geram auto-estima e possibilidades de ascensão
social. Claro que há todo um imenso
elenco de outras providências, porque a história do Brasil prova clara e
insofismavelmente que o crescimento, mesmo explosivo, não foi capaz
nem mesmo de servir de aspirina para as mazelas sociais.
Mas, sem crescimento, tudo o mais
fica infinitamente mais complicado,
praticamente impossível.
Então, a segunda pergunta simples
é esta: a política econômica atual é
capaz de induzir um crescimento no
tamanho necessário?
De novo, a resposta é espantosamente simples: está no desempenho
econômico pífio verificado nos oito
anos de FHC, nos quais a política fiscal foi até mais frouxa do que a atual.
Se vivo fosse, Sérgio Motta diria que
centrar a discussão em focalização x
universalização, pelo menos nesta altura do campeonato, é masturbação
sociológica. Pena que falte um Sérgio
Motta no governo do PT. Longa vida
a ele, se e quando surgir.
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