São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Recordes

BRASÍLIA - Manchete da Folha na sexta-feira: o desemprego na região metropolitana de São Paulo bateu no nível recorde de 20,6%, com 2 milhões de pessoas no olho da rua.
E a manchete de ontem foi um novo recorde: o superávit primário (diferença entre receitas e despesas, exceto os juros) ficou em R$ 20,5 bilhões no primeiro trimestre. Ou seja: em 5,41% do PIB, bem mais do que os já muito altos 4,25% acertados com o FMI.
Há uma relação de causa e efeito entre um recorde e outro. O arrocho começa pelo governo Lula, que mantém juros altos, concentra o dinheiro público para pagar a dívida, retém investimentos e engessa a economia. Vale dizer: segura os empregos.
A isso se convencionou chamar, injustamente, "política do Palocci". Há muitos outros pais e mães dentro e, principalmente, fora do Brasil. E é a ela que Lula passou a reagir depois de meses apanhando.
Crise Waldomiro, pancadaria na política econômica, acusações de paralisia do governo e... a popularidade do Lulinha Paz e Amor despencando. Lula tentou agüentar firme, mas seu instinto político passou a falar mais alto. Mais alto, por exemplo, do que seu discernimento administrativo -que não é muito.
O assembleísmo do PT não poupou o governo do PT, no qual abundam reuniões, grupos de trabalho e comissões. A diferença, agora, é que Lula começou a cobrar diretamente resultados. Quer as coisas acontecendo. E, para isso, o governo precisa flexibilizar o Orçamento, parar de endeusar os juros e o superávit primário e dar verbas para ministérios e programas.
Demorou, mas Lula cede às pressões e comanda a festa. A semana passada foi de reuniões, uma atrás da outra. Nelas, ele bateu na mesa contra ministros que têm verbas e não sabem usar. Os ministros que querem mais tiveram voz, os que têm as chaves abriram o cofre. Palocci, que embarcou para Washington, parece cada vez mais isolado.
Agora as críticas vão ser ao contrário: o risco é a festa de hoje se transformar na ressaca de amanhã.


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